Equipe econômica do C6 Bank, liderada por Felipe Salles, aponta os fatos mais importantes da semana (21-25/3)
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Confira as principais noticias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.
Internacional
A economia americana continua crescendo. As prévias dos índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) indicam aceleração da atividade em março, com o relaxamento das restrições associadas à covid-19 mais que compensando as preocupações relacionadas à guerra na Ucrânia. O PMI de manufaturas subiu 1,2 ponto para 58,5, em razão de um aumento na produção e nos pedidos. O PMI de serviços aumentou 2,4 pontos para 58,9, refletindo um crescimento de novos negócios. Ambos os índices mostraram emprego firme, preços elevados e sinais de gargalos na cadeia produtiva.
Os indicadores regionais de atividade industrial do Federal Reserve (Fed) também sinalizam expansão em março. O Richmond Fed subiu 12 pontos para 13 e o Kansas City Fed subiu 8 pontos para 37. Na composição dos índices, houve aumento na demanda e produção, enquanto o tempo de entrega de mercadorias permaneceu alto e preços elevados.
O mercado imobiliário segue aquecido. Apesar de uma queda na venda de casas novas de 2% em fevereiro frente ao mês anterior, as vendas permanecem acima do nível pré-pandemia. O estoque de casas disponíveis para venda (inclui casas novas e existentes) permanece baixo, levando a altas nos preços.
O mercado de trabalho continua forte. Os pedidos iniciais de seguro-desemprego seguem diminuindo e alcançaram 187 mil na semana encerrada em 19 de março, menor nível da série em mais de 50 anos.
Os pedidos de bens duráveis e de capital diminuíram em fevereiro, mas seguem bem acima do nível pré-pandemia. Os pedidos de bens duráveis (excluindo aeronaves) contraíram 0,6% em relação ao mês anterior, a primeira queda em um ano. Os pedidos de bens de capital (excluindo aeronaves, equipamentos militares), como máquinas e equipamentos, diminuíram 0,3%.
Os números de novos casos de covid-19 e de hospitalizações continuam diminuindo no país.
O conflito entre Rússia e Ucrânia entra no segundo mês e não vemos sinais de um desfecho rápido. Tropas russas têm encontrado resistência para avançar em direção ao centro da capital, Kiev, e o mesmo tem acontecido na cidade portuária de Odessa. Enquanto isso, a União Europeia e os Estados Unidos anunciaram um acordo para promover um aumento do fornecimento de gás líquido para o continente europeu ainda este ano, dando um passo em direção a independência da região em relação ao gás russo. Preocupações quanto a uma reação extrema russa com o uso de armas não-convencionais (químicas, biológicas, nucleares) levou a Otan a alertar Putin e anunciar o aumento de tropas na fronteira no leste europeu. Um acordo de paz não parece estar próximo.
Os preços das commodities seguem com alta volatilidade. O gás natural e o petróleo (Brent) subiram aproximadamente 6% e 10%, respectivamente, desde sexta passada até 24 de março, depois de quedas na semana anterior. Adicionalmente, o trigo caiu cerca de 2% no período.
As prévias dos índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) de março continuam sinalizando, por ora, crescimento da atividade. O PMI de manufaturas diminuiu 1,2 ponto, para 57, com os indicadores da Alemanha e da França permanecendo resilientes em 57,6 e 54,8 pontos, respectivamente. O PMI de serviços teve leve queda de 0,7 ponto, para 54,8, mantendo o bom desempenho do setor após a diminuição das restrições associadas à covid-19. Na composição dos índices, os preços continuam elevados, os gargalos na cadeia produtiva aumentaram e empregos permanecem sólidos.
A confiança do consumidor caiu para o menor nível desde meados de 2020. O índice da Comissão Europeia teve queda de 9,9 pontos em março frente ao mês anterior, alcançando -18,7. Nenhum detalhe referente à publicação foi divulgado, mas a inflação elevada deve ter tido impacto significativo no índice. Na Alemanha, o índice de confiança empresarial medido pelo instituto alemão IFO caiu 7,7 pontos, para 90,8. As empresas avaliaram com mais pessimismo os próximos meses em razão das incertezas causadas pela guerra na região.
No Reino Unido, a atividade indicou expansão em março, mas há sinais de queda no consumo para frente e maior inflação. As prévias dos PMIs indicaram crescimento em manufaturas (55,5 pontos) e serviços (61 pontos). Na composição dos índices há sinais de mercado de trabalho aquecido e preços elevados. As vendas no varejo caíram 0,3% em fevereiro frente ao mês anterior, mas permanecem acima do nível pré-pandemia. A confiança do consumidor recuou 5 pontos em março para -31 e se aproximou de um mínimo alcançado em 2020 durante a pandemia, possivelmente afetada pelos impactos esperados com a guerra. A inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) continuou acelerando em fevereiro. O índice teve o maior aumento em quase trinta anos, passando de 5,5% nos últimos doze meses até janeiro para 6,2% em fevereiro. A alta nos preços foi causada por aumentos no núcleo da inflação (exclui alimentos e energia) que subiu 5,2%.
Os números de novos casos de covid-19 têm aumentado em alguns países, como Reino Unido, França e Itália, mas as hospitalizações continuam baixas.
O número de novos casos de covid-19 continuou subindo esta semana e permanece na faixa dos milhares há quase duas semanas, segundo dados da Comissão Nacional de Saúde. A província de Jilin – 24 milhões de habitantes – concentra mais de 80% dos novos casos e está em lockdown há uma semana. Além da província, algumas cidades começaram a aumentar restrições depois que o número de infecções cresceu, como é o caso de Tangshan, um hub da produção de aço. O número de distritos de risco alto e médio aumentou durante a semana e indicadores de alta frequência apontam queda na mobilidade. Um sinal positivo veio da cidade de Shenzhen, hub tecnológico ao sul do país, que suspendeu o lockdown de uma semana, mas continua com controles estritos. O presidente Xi Jinping mantém a política de tolerância zero ao vírus, mas pediu para que os governos utilizem medidas menos custosas à sociedade e à economia. Um ajuste fino nas práticas está ocorrendo em algumas cidades.
O banco central da China (PBOC, na sigla em inglês) manteve inalteradas as taxas de curto e longo prazo (LPRs, na sigla em inglês) em 3,7% e 4,6%, respectivamente, conforme esperado. Em reunião do Conselho de Estado, presidida pelo primeiro-ministro Li Keqiang, o governo prometeu políticas de apoio à economia e pediu uma política monetária de expansão estável do crédito.
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Brasil
A projeção para o IPCA continuou apresentando alta, tanto para 2022 (de 6,45% para 6,59%) quanto para 2023 (de 3,7% para 3,75%). O número esperado para o PIB ficou praticamente estável para 2022 (de 0,49% para 0,50%), e registrou queda para 2023 (de 1,43% para 1,3%). A taxa Selic registrou alta tanto para o final deste ano (de 12,75% para 13,00%), quanto para o final do ano que vem (de 8,75% para 9,00%). As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.
O IPCA-15 de março veio acima do esperado, registrou elevação de 0,95% e acumula alta de 10,79% na variação em 12 meses. A composição do índice mostra o segmento de bens industriais acelerando. Do lado positivo, o segmento de serviços veio melhor que o esperado, mostrando desaceleração neste mês. À frente, a inflação de bens industriais deve seguir elevada por mais tempo. O conflito geopolítico e as paralizações ocorridas na China decorrentes da alta de casos de covid devem retardar a normalização das cadeias globais de produção. As recentes desonerações anunciadas pelo governo, tais como queda na tarifa de importação de alguns alimentos e redução do IPI (imposto sobre produto industrializado), devem ter impacto pequeno na inflação de curto prazo. A pressão inflacionária segue intensa e a inflação de serviços deve continuar sentindo a inércia inflacionária nos próximos meses.
A inflação recente acima do esperado, a recente alta nos preços de commodities, os impactos do conflito da Ucrânia e dos lockdowns anunciados pela China nas cadeias globais de produção colocam forte viés de alta na projeção de IPCA de 6,0% para 2022.
O Banco Central divulgou nesta terça (22) a ata das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 15 e 16 de março. O comitê apresentou um cenário alternativo ao cenário de referência, no qual embute preços de petróleo do mercado futuro. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 6,3% para 2022 e 3,1% para 2023 (ligeiramente abaixo da meta de 3,25%). Por outro lado, as projeções de inflação do BCB no cenário de referência situam-se em torno de 7,1% para 2022 e de 3,4% para 2023 (ligeiramente acima da meta de 3,25%). Ambos os cenários supõem trajetória de juros projetada pelo boletim Focus, que se eleva até 12,75% em 2022 e recua para 8,75% ao final de 2023.
Os membros do Copom concluíram que “um novo ajuste de 1,00 ponto percentual, seguido de ajuste adicional de mesma magnitude, é a estratégia mais adequada para atingir aperto monetário suficiente e garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante”. Note que o comitê se referiu a ajuste adicional no singular, ou seja, sinaliza que a próxima alta deve finalizar o ciclo atual de ajuste nos juros. Ou seja, juros a 12,75% seria suficiente para a convergência da inflação à meta em 2023 no cenário alternativo. Entretanto, caso a trajetória de preços se mostre mais próxima à observada no cenário de referência, o Comitê avalia que o ciclo deverá ser ainda mais contracionista. Com isso, o Copom deixa aberta a possibilidade para altas adicionais, caso necessário.
O Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de março divulgado nesta quinta (24) reforçou essa mensagem. Os modelos de projeção de inflação do BCB mostram inflação abaixo da meta em 2024, em 2,3% no cenário alternativo e 2,4% no cenário de referência. Ou seja, haveria pouco espaço para altas adicionais de juros, pois, na reunião de agosto, o ano de 2024 começa a entrar no horizonte relevante do comitê.
Em suma, acreditamos que a comunicação é condizente com um cenário de uma alta adicional de 100 pontos-base na reunião de maio, elevando a taxa Selic ao nível de 12,75%, finalizando o ciclo de ajuste monetário. No entanto, pensamos que, em maio, o cenário ainda estará envolto em grande incerteza e por isso o comitê não irá se comprometer com o passo seguinte de política monetária.
Equipe Econômica C6 Bank
Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil
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