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Resumo semanal: Copom anuncia fim do ciclo em decisão unânime

Confira as principais notícias da semana (17/6 -21/6), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

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Tempo de leitura · 12 min

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Felipe Salles, head da equipe de Economia.
Imagem: Wanezza Soares.

Internacional

Estados Unidos: atividade industrial surpreende

A atividade vem registrando um bom desempenho. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto, que inclui o setor de manufaturas e serviços, subiu 0,1 ponto para 54,6 pontos, maior nível desde meados de 2022. Houve aumento no índice de serviços (55,1) e em manufaturas (51,7). Outra pesquisa, divulgada pelo banco central americano (Federal Reserve, Fed), mostra que a produção de manufaturas aumentou 0,9% frente ao mês de maio, acima do esperado. Uma terceira pesquisa, divulgada pelo Departamento de Comércio americano, mostrou que as vendas no varejo tiveram leve crescimento. O núcleo do índice subiu 0,4% frente ao mês anterior, abaixo do esperado, após uma queda em abril.

O setor imobiliário continuou apresentando dados fracos. O núcleo do indicador de permissão para construir diminuiu em maio frente ao mês anterior, a quarta contração consecutiva do índice, segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio. Este indicador costuma antecipar o início de construções, cujo núcleo também continuou contraindo em maio. Outra publicação do Departamento do Comércio mostra que as vendas de casas usadas, que representam mais de 80% do mercado imobiliário, registraram uma diminuição de 0,7%. Em outra pesquisa, o índice de confiança das construtoras (NAHB Housing Market Index) também diminuiu em junho, permanecendo abaixo da média pré-pandemia. O ambiente de juros altos tem sido um desafio para as construtoras por tornar os empréstimos mais caros, dificultando a atividade do setor e diminuindo as perspectivas de vendas.

Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 238 mil na semana encerrada em 15 de junho.

Mensagens recentes de membros do Fed confirmam cautela quanto a uma decisão de corte de juros. Vários membros seguem mencionando que precisam ganhar confiança na trajetória de desaceleração da inflação em direção à meta. Em nossa visão, os fundamentos macroeconômicos (mercado de trabalho aquecido e inflação desacelerando muito lentamente) são inconsistentes com cortes de juros este ano, mas a comunicação do Fed sugere que um corte é provável.

Europa: BoE mantém juros estáveis, mas reconhece progresso na inflação

A guerra entre Rússia e Ucrânia está no terceiro ano e continua sem perspectiva de fim próximo.

O índice de confiança do consumidor segue fraco. O índice calculado pela Comissão Europeia teve aumento modesto de 0,3 ponto em junho, e segue abaixo da média pré-pandemia.

A atividade desacelerou em junho, de acordo com as prévias dos índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês). O índice composto, que considera o setor de manufaturas e serviços, diminuiu 1,4 ponto para 50,8 no mês, perdendo força depois de cinco meses de melhora. A redução do índice foi causada por maior encolhimento no setor de manufaturas (45,6) e expansão mais moderada em serviços (52,6). A produção da indústria segue em queda e a demanda do setor também diminuiu. O tempo de entrega de mercadorias continua baixo, apesar da dificuldade no fluxo de navios pelo Mar Vermelho. No setor de serviços, a demanda teve leve aumento. A criação de emprego cresceu em ritmo moderado, puxada pelo setor de serviços; os preços de insumos e de vendas desaceleraram, mas seguem crescendo. Entre as maiores economias do bloco, o PMI da Alemanha perdeu força (50,6), com encolhimento maior em manufaturas (43,4) e crescimento mais moderado em serviços (53,5). O PMI da França apresentou leve redução (48,2), sinalizando contração em ambos os setores.

No Reino Unido, o indicador de atividade segue apontando expansão, porém mais moderada. A prévia do PMI registrou 51,7 pontos, 1,3 ponto abaixo de maio, mas permaneceu em expansão pelo sétimo mês seguido. Houve desaceleração do setor de serviços (51,2) e leve crescimento em manufaturas (51,4). A produção de bens subiu, acompanhada por maior demanda do setor. Já a prestação de serviços perdeu força com a desaceleração da demanda. O emprego continua crescendo, mas as dificuldades em contratar e a necessidade de reduzir custos levaram à moderação na criação de vagas. Pressões inflacionárias voltaram, com empresas reportando aumento nos preços de frete associados a gargalos no transporte global. No setor de serviços, os salários continuam a impulsionar os custos. Preços de venda subiram.

O volume de vendas no varejo subiu em maio no Reino Unido depois de queda no mês anterior, segundo dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas britânico (ONS, na sigla em inglês). No geral, vendas seguem fracas.

A inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) veio novamente acima do esperado para os britânicos. O índice cheio subiu 0,3% em maio em relação ao mês anterior e o núcleo, que exclui alimentos, energia, álcool e tabaco, aumentou 0,5% no mesmo período, segundo o ONS. O setor de serviços continua sendo o principal responsável pela persistência da inflação. Em 12 meses, o núcleo do indicador desacelerou para 3,5%, permanecendo elevado, com preços de serviços acumulando alta de 5,7%.

O Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) manteve a taxa de juros em 5,25% ao ano, conforme esperado – maior nível em 16 anos. A pausa foi a sétima consecutiva depois de 14 aumentos. Sete dos nove membros do Comitê de Política Monetária votaram pela manutenção dos juros, enquanto dois preferiam um corte. Apesar da manutenção, a ata da reunião indicou que um corte de juros pode estar próximo. Isto porque, os membros que votaram pela manutenção dos juros, já veem resultados esperados da política monetária mais restritiva, como menor pressão no mercado de trabalho e menor aumento dos preços. Segundo estes membros, os indicadores de persistência da inflação, apesar de elevados, têm mostrado moderação. Alguns membros ainda notaram que a pressão mais recente da inflação de serviços não altera significativamente a trajetória de desinflação em curso. Em nossa visão, apesar da persistência da inflação de serviços (5,7%) e do crescimento robusto de salários, o BoE pode decidir por um corte de juros já esse ano, salvo alguma surpresa na divulgação da inflação à frente. Tal decisão estaria em linha com a comunicação recente da instituição.

China: setor imobiliário não apresenta sinais de melhora

A demanda doméstica apresentou melhora modesta, mas a indústria perdeu força. Segundo dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês), as vendas no varejo subiram 3,7% em maio comparadas a maio de 2023. A produção industrial cresceu abaixo do esperado, subindo 5,6% no período, com moderação na produção de automóveis, apesar de um forte crescimento na produção de veículos elétricos; setores relacionados à construção, como produção de cimento e aço, seguem fracos. Os investimentos desaceleraram com o encolhimento do setor imobiliário, mas investimentos no setor de manufaturas e de infraestrutura continuam firmes, apoiados por políticas públicas.

O setor imobiliário segue fraco. As vendas de casas novas continuam em queda. O início de novas construções também encolheu.  O preço de casas novas nas 70 maiores cidades chinesas diminuiu 0,7% em maio contra o mês anterior, décima segunda queda consecutiva. O preço de casas no mercado secundário também continua em queda. O estoque de casas não vendidas segue elevado. As medidas anunciadas pelo governo em maio para encorajar compras de imóveis e reduzir os estoques de construtoras ainda não tiveram impacto relevante.

A taxa de desemprego urbano permaneceu em 5% em maio.

O Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) manteve a taxa de juros de médio prazo em 2,5% ao ano, conforme esperado. Existe uma expectativa de corte de juros adiante, principalmente depois das orientações do Politburo em abril para que a autoridade monetária apoie a atividade econômica. Com a inflação do país em baixa (CPI acumulado em 12 meses está em 0,3%), a taxa de juros real tem permanecido elevada, o que desencoraja investimentos. No entanto, um corte de juros tende a desvalorizar a moeda local frente ao dólar, o que pode aumentar tensões comerciais. Os Estados Unidos e a União Europeia já anunciaram aumento de tarifas sobre vários produtos chineses. O PBoC manteve as taxas de juros de curto prazo (LPR 1 ano) e de longo prazo (LPR 5 anos) inalteradas, conforme esperado. A LPR 1 ano permaneceu em 3,45% e a LPR 5 anos em 3,95%.

Commodities: petróleo pressionado

O conflito entre Israel e o Hamas completou oito meses. A crise geopolítica pode demorar algum tempo. Até o momento, não houve uma escalada do conflito na região, que é a maior exportadora mundial de petróleo.

O preço futuro do petróleo (Brent) subiu na semana (de 13/6 a 20/6), encerrando o período próximo a 86 dólares por barril, mais de 5% acima da semana anterior. A Administração de Informações de Energia (EIA, na sigla em inglês) reportou aumento na demanda por combustíveis em razão do início da temporada de viagens relacionadas ao verão no hemisfério norte.

O preço futuro do gás natural na Europa caiu 3,5% na semana e segue em patamar baixo. Os estoques continuam elevados na região. O preço continua menos de 40% do que era antes do início da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Forte queda dos preços de grãos. O preço do trigo continuou recuando: na semana, caiu mais de 7%, com condições favoráveis para aumento da produção nos Estados Unidos. O preço do milho e da soja registraram queda de 4,1% e 2,9%, respectivamente, na semana.

Brasil

Focus aumenta projeção de Selic para 2024 e 2025

As projeções para o IPCA registraram alta para 2024 (de 3,90% para 3,96%) e tiveram pequena mudança para 2025 (de 3,78% para 3,80%). Para 2026, não houve alterações (3,6%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ficou praticamente inalterado para 2024 (de 2,09% para 2,08%) e não teve mudanças para 2025 (2%). A taxa Selic subiu para 2024 (de 10,25% para 10,50%) e para 2025 (de 9,25% para 9,50%) e ficou estável em 9% para 2026. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Inflação: IGP-10 em 12 meses volta ao patamar positivo após 14 meses

A inflação medida pelo IGP-DI apontou alta de 0,83% em junho, em linha com a mediana das projeções do mercado (0,81%). A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com alta de 1,1%. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – subiu 0,7%. Em 12 meses, o índice está em 1,8%, o primeiro número positivo após 14 meses em deflação. O IPA agrícola acumula queda de 1% e o núcleo do IPA industrial retração de 0,6%.

Política monetária: Copom interrompe ciclo de queda de juros em decisão unânime

O Banco Central do Brasil (BCB) manteve a taxa Selic estável em 10,50% nesta quarta-feira (19). Nesta reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou pela interrupção do ciclo de corte de juros. Na nossa visão, considerando as projeções de inflação do Banco Central, não haveria espaço para novos cortes de juros.

A decisão foi unânime, com todos os 9 membros do Comitê votando pela manutenção da taxa de juros no patamar atual. Isso ocorre após uma votação dividida na reunião anterior. Entendemos que essa sinalização de coesão no comitê pode ajudar a atenuar a volatilidade do mercado decorrente das incertezas em relação à condução da política monetária.

As projeções de inflação no cenário de referência do Copom (que considera juros de 10,5% ao fim de 2024 e de 9,5% ao final de 2025) passaram de 3,8% para 4% em 2024 e de 3,3% para 3,4% em 2025 (acima da meta estabelecida de 3%). Vale lembrar que, nesta reunião de junho, o horizonte relevante de política monetária considera somente o ano de 2025. A partir da reunião de julho, o comitê passará a incluir o ano de 2026, ainda que com peso menor. No comunicado de agora, a novidade foi a apresentação de um cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante. Nesse cenário, as projeções de inflação situam-se em 4% para 2024 e 3,1% para 2025. Ou seja, se a Selic for mantida neste patamar, a projeção do BC é que a inflação fique em torno da meta de 3%.

O Copom reiterou que a Selic deve se manter em patamar elevado por tempo suficiente para que a inflação e suas expectativas voltem para perto da meta. Por fim, o Comitê afirmou que “se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”. Ou seja, irá monitorar de perto o comportamento das variáveis que afetam a dinâmica da inflação e deixou aberta a possibilidade de novas mudanças nos juros caso necessário.

Projetamos, por ora, Selic em 10,5% ao final de 2024 e de 9% ao final de 2025. Caso o cenário continue se deteriorando (expectativas de inflação em alta e câmbio se desvalorizando) não descartamos uma possível retomada da alta de juros. Aguardamos a ata da reunião, que será divulgada na próxima terça-feira (25), para termos mais detalhes sobre os rumos da política monetária.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles                   Head

Claudia Moreno      Head Brasil

Claudia Rodrigues    Head Internacional

Felipe Mecchi               Internacional

Heliezer Jacob            Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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