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Resumo semanal: Copom inicia ciclo de alta de juros e adota discurso duro

Confira as principais notícias da semana (16/9 – 20/9), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório

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Internacional

Estados Unidos: Fed inicia ciclo de cortes de juros com redução maior do que o esperado

O banco central americano (Federal Reserve – Fed) surpreendeu e decidiu cortar a taxa de juros americana em 50 pontos-base (pb). A expectativa era que o primeiro corte fosse menor, de 25 pb.  O novo intervalo de flutuação dos juros foi definido entre 4,75% e 5% ao ano. O documento divulgado pela autoridade monetária justificou a decisão em razão do maior progresso na redução da inflação em direção à meta e do aumento do desemprego, apesar de reconhecer que a inflação segue elevada e o desemprego baixo. Além de cortar os juros, o Fed revisou suas projeções de variáveis macroeconômicas para os próximos anos. Segundo a mediana das projeções de membros do comitê de política monetária, o desemprego deve ser maior do que o previsto anteriormente em junho, alcançando 4,4% no fim deste ano e terminando neste patamar em 2025. As projeções continuam indicando que a inflação deve alcançar a meta de 2% em 2026. Quanto aos juros, as projeções sugerem uma redução adicional de 50pb ao longo do restante deste ano, seguida de uma redução de 100pb em 2025 e de 50pb em 2026, deixando claro que o alívio monetário deverá continuar nos próximos 2 anos. O presidente do Fed, Jerome Powell, disse que apesar do corte inicial ter sido de 50pb este não deve ser considerado o novo ritmo de redução dos juros. Os próximos passos seguem dependentes dos dados, da evolução do cenário e dos riscos à inflação e ao desemprego.

Em nossa visão, o Fed deve adotar o caminho da flexibilização gradual de juros, com mais dois cortes de 25pb nas duas reuniões restantes do ano. No entanto, reconhecemos a possibilidade de a autoridade monetária decidir por novos cortes de 50 pb caso o mercado de trabalho apresente deterioração.

O setor imobiliário registrou leve melhora de atividade no mês de agosto, mas as vendas seguem fracas. O núcleo do indicador de permissão para construir subiu 2,8% frente a julho, segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio. Este indicador costuma antecipar o início de construções, cujo núcleo (single family) permaneceu estável nos últimos 3 meses. No entanto, no que se refere às vendas, os dados seguem fracos. As vendas de casas usadas, que representam mais de 80% do total negociado no mercado imobiliário, registraram queda de 2,5% em agosto. No geral, as vendas de imóveis seguem em um dos menores patamares desde 2010. Os preços e as taxas de hipoteca elevados contribuem para que as vendas do setor permaneçam fracas e abaixo do nível pré-pandemia. Em outra pesquisa, o índice de confiança das construtoras (NAHB Housing Market Index) teve leve aumento em setembro, mas permanece abaixo da média pré-pandemia.

A atividade da indústria segue moderada. A produção industrial cresceu 0,8% em agosto contra o mês anterior, segundo dados do Fed. Outra pesquisa, divulgada pelo Departamento de Comércio americano, mostra que as vendas no varejo cresceram no mesmo período e seguem tendência de alta.

Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuaram em níveis baixos para padrões históricos, em 219 mil na semana encerrada em 14 de setembro.

Europa: BoE pausa queda de juros e reforça cautela

A guerra entre Rússia e Ucrânia está no terceiro ano e continua sem perspectiva de fim próximo.

O Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) decidiu pausar o ciclo de corte de juros, conforme o esperado, depois de iniciar as reduções na reunião anterior, em agosto. A taxa permaneceu em 5% ao ano. A decisão foi quase unânime, oito dos nove membros do Comitê de Política Monetária votaram pela estabilidade e um pela redução. Na ata, o Comitê continuou indicando que o alívio da política monetária deve ser gradual e discutido a cada reunião. O texto manteve a sinalização de que a política monetária continuará restritiva por tempo suficientemente longo até que o Comitê ganhe mais confiança que a inflação retornará à meta de 2%. A expectativa do Banco é que a inflação acelere moderadamente até o fim do ano, chegando a 2,5%. O presidente da instituição, Andrew Bailey, reforçou que a trajetória de juros segue dependente de um alívio da inflação, e que o Comitê manterá cautela para não reduzir os juros rápido demais.

O CPI voltou a subir em agosto no Reino Unido, depois de queda no mês anterior. O índice cheio aumentou 0,3% em relação a julho. O núcleo, que exclui alimentos, energia, álcool e tabaco, subiu 0,5%, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês), devido ao aumento no preço de bens, após duas quedas consecutivas.  Apesar do aumento no mês, a composição do índice segue benigna, com desaceleração contínua nos preços de serviços, que costumam ser mais persistentes. Em 12 meses, o CPI continuou acumulando alta de 2,2% e o núcleo do índice subiu 3,6%, ambos conforme o esperado. Os preços de serviços acumularam alta robusta de 5,6%.

O volume de vendas no varejo cresceu no Reino Unido em agosto, segundo dados divulgados pelo ONS. O aumento foi maior do que o esperado e coloca o volume de vendas praticamente de volta ao nível pré-pandemia.

Japão: BoJ decide por pausa

A inflação permaneceu firme em agosto. Em 12 meses, o índice acelerou para 3% e o núcleo, que exclui alimentos frescos, subiu 2,8%, com redução do subsídio de energia. Na composição do índice, o núcleo de bens vem mostrando tendência de alta e os preços de serviços continuam subindo gradualmente, indicando persistência.

O Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) manteve a taxa juros em 0,25%, conforme esperado, depois de surpreender com um aumento na reunião anterior. No comunicado, a instituição afirma que o consumo tem seguido uma tendência de alta moderada. O presidente do BoJ, Kazuo Ueda, reiterou que os juros devem continuar subindo, mas que, no momento, continuam avaliando a trajetória da economia e da inflação e não há pressa para um novo aumento. Ueda acrescentou que os riscos de uma inflação maior, causada pela fraqueza da moeda local, diminuíram significativamente. Lembrando que o iene vem se valorizando desde meados de julho, quando perspectivas de corte de juros nos EUA e aumento de juros no Japão ganharam força. Em nossa visão, um novo aumento de juros pode ocorrer na reunião de dezembro, quando mais dados sobre a inflação e os salários estarão disponíveis.

China: atividade segue perdendo força

Os dados de atividade referentes a agosto desapontaram. Houve desaceleração da produção industrial, dos investimentos e do consumo doméstico. Segundo dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês), a produção industrial cresceu 4,5% no mês em comparação a agosto de 2023, ficando abaixo do esperado. Uma perda de força foi observada em alguns setores que haviam sido estimulados recentemente, como o de veículos elétricos e bateria solar, além do contínuo encolhimento de setores relacionados à construção (cimento e aço).  Por outro lado, setores mais relacionados à exportação e à produção de itens de alta tecnologia continuaram com bom desempenho. As vendas no varejo subiram 2,1% no mesmo período, com a redução nas vendas de veículos: a contínua desaceleração de vendas do varejo reflete um enfraquecimento do consumo doméstico. Os investimentos cresceram 3,4% de janeiro a agosto em relação ao mesmo período de 2023, resultado abaixo do esperado. Houve moderação dos investimentos em infraestrutura e encolhimento maior no setor imobiliário. Os investimentos no setor manufatureiro seguem sólidos. A taxa de desemprego urbano subiu novamente, passando de 5,2% para 5,3% em agosto.

O setor imobiliário permanece fraco. As vendas de casas novas continuam em queda. O início de novas construções também segue diminuindo.  A finalização de construções já iniciadas, depois de ter crescido no ano passado, vem encolhendo neste ano. O preço de casas novas nas 70 maiores cidades chinesas diminuiu 0,73% em agosto contra o mês anterior, décima quinta queda consecutiva. O preço de casas no mercado secundário também continua em queda. As medidas anunciadas pelo governo em maio para apoiar o setor, que encorajam compras de imóveis e reduzem os estoques de construtoras, ainda não tiveram impacto relevante.

O Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) manteve as taxas de juros em pausa, conforme esperado, depois de corte de 10 pontos-base em julho. Após a decisão, a LPR 1 ano permaneceu em 3,35% e a LPR 5 anos em 3,85%. Apesar de sinais de desaceleração da atividade e contínuo encolhimento do setor imobiliário, o PBoC tem agido com cautela, de acordo com as orientações da liderança do partido comunista. O governo chinês costuma preferir apoiar a economia com ajustes direcionados a setores específicos que apresentam dificuldade.

Commodities: petróleo sobe com dólar mais fraco

No Oriente Médio, o conflito entre Israel e Hamas completou onze meses. A tensão na região aumentou depois que Israel anunciou uma nova fase do conflito. O ministro da Defesa do país disse que tropas serão enviadas para a fronteira com o Líbano, sinalizando uma possibilidade de ataques contra o grupo extremista Hezbollah, baseado no país. A crise geopolítica na região deve demorar algum tempo.

O preço futuro do petróleo (Brent) subiu 4% na semana de 12/9 a 19/9, depois de ter ficado abaixo de 70 dólares por barril na semana anterior. O preço fechou a semana próximo a 75 dólares por barril. O corte de juros nos EUA, que tende a desvalorizar a moeda de cotação da commodity, juntamente com a maior tensão no Oriente Médio, pressionam o preço. Por outro lado, a desaceleração em curso da economia chinesa contribui para aliviar a pressão.

O preço futuro do gás natural na Europa continuou diminuindo. Na semana de 12/9 a 19/9, o preço futuro caiu 6% e segue baixo, com o aumento da confiança de que os estoques de gás disponíveis serão suficientes para o inverno. O preço do gás continua menos da metade do que era antes do início da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Entre as commodities agrícolas, os preços futuros da soja e do milho subiram na semana de 12/9 a 19/9. Ambas as commodities têm grande produção na América Latina. Segundo o Departamento de Agricultura do EUA (USDA, na sigla em inglês), o Brasil é o maior produtor de soja e o terceiro maior produtor de milho. O país tem apresentado baixa umidade e extensas queimadas. O preço futuro da soja subiu 2% e do milho 5% no período. O preço futuro do trigo permaneceu estável.

Brasil

Focus: elevação nas expectativas de juros e inflação

As projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador de inflação oficial do país, apresentaram alta para 2024 (de 4,30% para 4,35%), para 2025 (de 3,92% para 3,95%) e ficaram praticamente estáveis para 2026 (de 3,60% para 3,61%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) teve uma elevação para 2024 (de 2,68% para 2,96%) e não teve alteração para 2025 (1,90%). A taxa Selic ficou em 11,25% para 2024 e subiu de 10,25% para 10,5% para o final de 2025. Para 2026, não houve alteração (9,5%). As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Gráfico de projeções do IPCA Focus com a mediana para 2024 e 2025, comparando as projeções de inflação com a meta estabelecida pelo Banco Central, mostrando variações de janeiro de 2022 a setembro de 2024.

Inflação: IGP-10 de setembro vem acima das projeções

A inflação medida pelo IGP-10 apontou alta de 0,18% em setembro, acima da mediana das projeções do mercado (0,10%). A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com alta de 0,9%. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – subiu 0,8%. Em 12 meses, o IGP-10 está em 4,2%. O IPA agrícola acumula alta de 6,7% e o núcleo do IPA industrial expansão de 4,1%.

Gráfico do IGP-10 acumulado em 12 meses, mostrando a variação do índice de setembro de 1996 a setembro de 2024, com picos e quedas ao longo do período.

Política monetária: Copom sobe juros a 10,75% e sinaliza forte ciclo de alta

O Banco Central do Brasil (BCB) elevou a taxa Selic de 10,50% para 10,75% nesta quarta-feira (18). A decisão foi unânime, em linha com o consenso de mercado, mas diferente da nossa expectativa, que era de manutenção no nível da taxa de juros.

O Comitê justificou a necessidade de uma política monetária mais restritiva diante do cenário marcado por “resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas”. Em particular, afirmou que os indicadores de atividade têm apresentado um dinamismo maior do que o esperado, o que levou o Copom a reavaliar o hiato do produto para o campo positivo. Acreditamos que essa reavaliação sobre o grau de aquecimento da economia feita pelo Copom pode explicar o aumento das projeções de inflação.

A projeção de inflação no cenário de referência do Copom (que considera juros projetados pelo Boletim Focus, de 11,25% ao final de 2024 e de 10,5% ao final de 2025) passou de 3,4% para 3,5% para o primeiro trimestre de 2026, período correspondente a seis trimestres à frente, em consonância com a nova sistemática de meta para a inflação. Vale mencionar que este valor está acima da meta de 3%, corroborando a decisão de elevar a taxa de juros hoje. Além disso, essa projeção indica que o ritmo de elevação dos juros necessário para trazer a inflação à meta deve ser mais intenso do que o projetado pelo Boletim Focus. Na nossa visão, o Comitê sugere com isso que pode ser necessário um ritmo de alta de juros superior a 25 pontos-base nas próximas reuniões.

Em linha com essa análise, o comunicado não se compromete com um ritmo específico de altas da Selic, afirmando que o ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo “dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.

Iremos revisar para cima nossa projeção para a Selic deste e do próximo ano (hoje em 10,5% ao final de 2024 e de 9% ao final de 2025). De qualquer forma, no cenário atual, o Comitê parece sugerir uma alta de 50 pontos-base para as próximas reuniões. Aguardamos a ata da reunião, que será divulgada na próxima terça-feira (24), para termos mais detalhes sobre os rumos da política monetária.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles                   Head

Claudia Moreno      Head Brasil

Claudia Rodrigues    Head Internacional

Felipe Mecchi               Internacional

Heliezer Jacob            Brasil

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