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Resumo semanal: Copom reconhece piora da inflação, mas adota tom suave

Confira as principais notícias da semana (29/7 – 02/8), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório

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Internacional

Estados Unidos: mercado de trabalho mais fraco abre espaço para corte de juros em setembro

O mercado de trabalho continua desaquecendo. O Departamento de Trabalho publicou dados referentes ao mês de julho. De acordo com o Establishment Survey, houve criação de 114 mil empregos no período, número abaixo do esperado e menor do que no mês anterior. O ganho médio por hora trabalhada desacelerou e acumula alta de 3,6% nos 12 meses até julho. O Household Survey mostrou que a taxa de desemprego subiu para 4,3% - maior patamar desde o fim de 2021, mas ainda baixo para padrões históricos, acompanhado de um aumento na participação da força de trabalho. Outro relatório do Departamento de Trabalho, o Jolts, mostrou que houve uma redução do número de vagas de emprego em aberto no mês de junho. A proporção de vagas disponíveis por desempregado diminuiu para 1,2, ainda consistente com um mercado robusto. A taxa de pedidos de demissão (saídas voluntárias) ficou estável no período. Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego subiram, mas continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 249 mil na semana encerrada em 27 de julho.

O setor de manufaturas segue perdendo força. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do Instituto ISM registrou queda de 1,7 ponto, alcançando 46,8 em julho, menor nível do ano. O subíndice de emprego teve a maior queda no período; produção e demanda também encolheram. Os preços pagos subiram, indicando contínua pressão inflacionária.

O setor imobiliário permanece fraco, mas com sinais de possível melhora das vendas à frente. O indicador de vendas pendentes de casas subiu 4,8% em junho, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis, depois de duas quedas consecutivas nos meses anteriores. Segundo dados divulgados pela Agência Federal de Financiamento da Habitação (FHFA, na sigla em inglês), os preços de casas ficaram estáveis em maio em relação ao mês anterior. Em doze meses, os preços acumulam alta de 5,7%. De modo geral, os preços e as taxas de hipoteca elevados mantêm as vendas do setor abaixo do nível pré-pandemia.

A confiança do consumidor aumentou em julho, mas segue abaixo do nível pré-pandemia, segundo o índice do Conference Board. Outro dado divulgado na pesquisa, a facilidade de conseguir emprego diminuiu levemente.

O banco central americano (Federal Reserve – Fed) manteve a taxa de juros no intervalo de 5,25% e 5,5% ao ano pela oitava vez consecutiva – maior patamar em mais de 20 anos. A decisão veio conforme o esperado. No comunicado, o Fed reconheceu que a inflação e o mercado de trabalho parecem caminhar em direção aos seus objetivos. Um corte de juros em setembro não foi descartado – a decisão, no entanto, vai depender dos dados.

Na nossa visão, dados mais fracos do mercado de trabalho, acompanhados de uma moderação da atividade e de uma desaceleração da inflação em curso, aumentam as chances de o Fed cortar juros na reunião de setembro.

Europa: BoE corta juros em decisão apertada

A guerra entre Rússia e Ucrânia está no terceiro ano e continua sem perspectiva de fim próximo.

O PIB da área do euro cresceu 0,3% no 2T24 frente ao trimestre anterior, de acordo com a primeira divulgação do Eurostat. A expansão veio pouco acima do esperado e depois de crescimento similar no 1T24. Os detalhes da composição do PIB serão divulgados posteriormente. Entre as maiores economias do bloco, o PIB da Alemanha encolheu 0,1% surpreendendo expectativas de um crescimento modesto, enquanto o PIB da França (0,3%), Itália (0,2%) e Espanha (0,8%) seguem em expansão. A atividade econômica na região tem sofrido com o alto preço de energia e com a política monetária apertada do Banco Central Europeu (BCE).

O índice de sentimento econômico ficou praticamente estável em julho em relação ao mês anterior, segundo a Comissão Europeia. Houve melhora na confiança do consumidor, mas o índice segue abaixo da média pré-pandemia, e redução na confiança de serviços e da indústria.

O mercado de trabalho permanece robusto. A taxa de desemprego subiu para 6,5% em junho, mas permanece próxima do mínimo da série histórica, o que pode manter pressão sobre salários. O índice divulgado pelo Eurostat mostra heterogeneidade entre as economias do bloco. O desemprego permanece baixo na Alemanha (3,4%), mas alto na Espanha (11,5%).

A inflação veio pouco acima do esperado. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) ficou estável em julho em relação ao mês anterior, segundo a prévia do Eurostat; a expectativa era de redução (-0,1%). No acumulado em 12 meses, o índice cheio registrou variação de 2,6%. O núcleo, que exclui energia, alimentos, álcool e tabaco, permaneceu em 2,9%, a expectativa era de uma desaceleração. Na composição, no entanto, o índice melhorou, com a menor persistência de preços de serviços. O crescimento no preço de bens foi o que contribuiu para o aumento da inflação no período. Em nossa visão, o BCE deve cortar juros mais vezes este ano, em razão da perda de força da atividade e da desaceleração da inflação em curso.

O Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) cortou a taxa de juros em 25 pontos-base para 5% ao ano, conforme esperado – foi o primeiro corte desde que o BoE iniciou o aperto monetário em 2021. A decisão foi equilibrada, cinco dos nove membros do Comitê de Política Monetária votaram pela redução e quatro votaram contra. Na ata, o Comitê justificou o corte em razão do menor risco de persistência da inflação à frente. Apesar da decisão, o texto reforçou cautela indicando que a política monetária continuará restritiva por tempo suficientemente longo até que o Comitê ganhe mais confiança de que a inflação retornará à meta de 2%. O presidente da instituição, Andrew Bailey, afirmou que a trajetória dos juros não está definida e decisões serão tomadas a cada reunião.

Japão: BoJ volta a subir juros

A inflação permaneceu elevada em junho. Em doze meses, o índice continuou em 2,8% e o núcleo, que exclui alimentos frescos, acelerou para 2,6%, com redução do subsídio de energia. Na composição do índice, o núcleo de bens vem mostrando tendência de alta, com repasse de preços de insumos. Os preços de serviços subiram, exceto os administrados.

O Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) elevou a taxa juros em 15 pontos-base para 0,25%, surpreendendo expectativas de manutenção, e anunciou uma redução na compra de títulos públicos, conforme esperado. A decisão reflete maior confiança da autoridade monetária em alcançar a meta de inflação (2%). No comunicado, a instituição afirma que o consumo permanece resiliente e a inflação segue pressionada por salários, preços de importados e expectativas inflacionárias. O presidente do BoJ, Kazuo Ueda, afirmou que provavelmente os juros continuarão subindo de forma gradual, reforçando que a política monetária ainda está bastante acomodativa e que não vê 0,5% como um limite para a taxa final.  A mediana das projeções de membros do comitê de política monetária prevê que o núcleo da inflação deve alcançar 2,5% no fim do ano fiscal 2024 (mar/25) e gradualmente convergirá para meta em 2026.

China: Politburo prioriza consumo doméstico

Esta semana, ocorreu a reunião do Politburo, órgão de cúpula do Partido Comunista Chinês, com foco em avaliar o desempenho econômico e definir orientações para políticas de curto prazo. Segundo o comunicado, o crescimento da economia está estável, mas existem desafios, como mudanças no ambiente externo, uma demanda doméstica insuficiente e dificuldades na transição para novas alavancas de crescimento. Líderes querem que o consumo doméstico seja impulsionado. Foi citada também a necessidade de se fortalecer a disciplina da indústria, ponto importante para evitar o excesso de capacidade instalada e diminuir tensões comerciais. Do lado fiscal, o governo deve aumentar a emissão de títulos públicos, já autorizados, para dar mais suporte à economia. Não houve mudança quanto às medidas de apoio já anunciadas ao setor imobiliário. O comunicado cita que medidas incrementais podem ser implementadas, deixando uma porta aberta para ajustes pontuais. O órgão reiterou o compromisso em alcançar a meta de crescimento para o ano. No geral, o texto veio em linha com expectativa de analistas.

O lucro da indústria aumentou 3,6% em junho comparado ao mesmo mês do ano anterior, de acordo com o NBS. A aceleração do lucro foi resultado do crescimento da produção industrial, das exportações e dos investimentos no setor. Apesar do melhor resultado, a razão entre o estoque de produtos finalizados e as vendas continua subindo, sinalizando um desequilíbrio entre oferta e demanda. O lucro da indústria no período foi puxado pelo setor de manufatura de máquinas e equipamentos, apoiado por políticas de suporte à inovação e sólida demanda externa. No ano, o lucro acumula alta de 3,5%, resultado fraco, considerando que no mesmo período em 2023 houve queda de 16,8%.

A atividade continuou mostrando sinais de moderação, de acordo com os PMIs do mês de julho, calculados pelo Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês). O PMI composto, que considera o setor de manufaturas, construção e serviços, diminuiu 0,3 ponto para 50,2. Na quebra por setores, manufaturas segue em retração (49,4), serviços registraram estabilidade (50) e construções continuaram em expansão, mas desacelerando (51,2).

Commodities: petróleo segue em baixa

No Oriente Médio, o conflito entre Israel e Hamas está perto de completar dez meses. As tensões aumentaram essa semana, depois de lideranças do Hezbollah e do Hamas terem sido alvos de ataques. Israel assumiu responsabilidade pela morte do primeiro líder, mas não se pronunciou quanto ao segundo, cuja morte ocorreu no Irã. O líder supremo do país prometeu vingança contra Israel. Os ataques de Houthis às embarcações no Mar Vermelho seguem afetando o frete marítimo global. A crise geopolítica na região pode demorar algum tempo.

O preço futuro do petróleo (Brent) registrou queda de 3,5% na semana (de 25/7 a 1/8), encerrando o período abaixo de 80 dólares por barril, continuando uma trajetória de queda depois de permanecer acima de 85 dólares por algumas semanas. A redução do preço ocorre em meio às preocupações com a desaceleração da China, maior importador global da commodity, e enfraquecimento da atividade global de manufaturas. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) decidiu manter o plano de voltar gradualmente com a produção (parcialmente interrompida no fim de 2022) a partir de outubro, indicando menor pressão de preços à frente.

O preço futuro do gás natural na Europa subiu na semana, mas segue em patamar baixo. Os estoques continuam elevados na região. O preço continua 40% do que era antes do início da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Os preços de grãos recuaram na semana. O preço do trigo teve leve queda de 1%, com condições favoráveis para o aumento da produção nos Estados Unidos. Os preços do milho e da soja diminuíram 6% e 8%, respectivamente.

Brasil

Focus: alta nas expectativas de inflação

As projeções para o IPCA registraram alta para 2024 (de 4,05% para 4,1%) e para 2025 (de 3,9% para 3,96%). Para 2026, não houve variações (3,6%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) teve uma pequena elevação para 2024 (de 2,15% para 2,19%) e para 2025 (de 1,93% para 1,94%). A taxa Selic segue em 10,5% para 2024, 9,5% para 2025 e 9% para 2026. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: dados fortes em junho

A taxa de desemprego da PNAD Contínua no trimestre terminado em junho veio em 6,9%. O indicador está também em 6,9% na série com nosso ajuste sazonal, abaixo do trimestre encerrado em maio. A composição do dado mostrou crescimento no ano de 3% da ocupação, assim como da renda real habitual, que subiu 5,8%. A taxa de desemprego está em nível significativamente abaixo do neutro, o que reforça o cenário de inflação pressionada. Nossa expectativa é que a taxa de desemprego (ajustada sazonalmente) fique praticamente estável ao longo do ano, encerrando 2024 abaixo de 7%.

A produção industrial de junho expandiu 4,1% frente ao mês anterior. O número de agora surpreendeu o mercado, que esperava um número positivo de 2,7% no mês, mas veio próximo da nossa projeção, que era de 3,7%. A alta foi impulsionada tanto pela indústria de transformação, que subiu 4,5%, quanto pela indústria extrativa, que cresceu 2,5%. Todas as categorias de uso (bens intermediários, bens de consumo e bens de capital) que compõem a indústria subiram.  O resultado divulgado hoje é forte e reforça a tendência de um PIB robusto no segundo trimestre do ano. Acreditamos que a atividade econômica brasileira pode ter crescido mais de 1% entre abril e junho de 2024. Ainda que a expectativa para o segundo semestre seja de desaceleração da economia, esperamos um PIB forte para 2024, de 2,5%. Também projetamos um crescimento acima de 2,5% para a indústria brasileira em 2024.

Inflação: IGP-M no maior patamar desde dezembro de 2022

A inflação medida pelo IGP-M apontou alta de 0,61% em julho, acima da mediana das projeções do mercado (0,47%). A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com alta de 0,6%. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – subiu 0,7%. Em 12 meses, o índice está em 3,8%, o maior valor desde dezembro de 2022. O IPA agrícola acumula alta de 3,8% e o núcleo do IPA industrial expansão de 1,7%.

Fiscal: dívida pública elevada

O setor público consolidado apresentou um déficit primário de R$ 40,9 bilhões em junho. No acumulado em 12 meses, o resultado consolidado está negativo em R$ 272,2 bilhões, o equivalente a 2,4% do PIB. A dívida líquida passou de 62,1% para 62,2% e a dívida bruta de 76,7% para 77,8%. Projetamos, por ora, déficit do setor público consolidado de 0,8% do PIB para 2024 e de 0,9% para 2025.

Política monetária: Copom reconhece, em tom suave, piora do cenário de inflação

O Banco Central do Brasil (BCB) manteve a taxa Selic estável em 10,50% nesta quarta-feira (31) pela segunda reunião consecutiva. A decisão foi unânime e veio em linha com a nossa estimativa e com o consenso de mercado.

A projeção de inflação no cenário alternativo do Copom (que considera juros de 10,5% constante ao longo do horizonte relevante) está em 3,2% para o primeiro trimestre de 2026, período condizente com seis trimestres à frente, em consonância com a nova sistemática de meta para a inflação. Vale mencionar que este valor se encontra ao redor da meta de 3%, sinalizando, na nossa visão, que o comitê não enxerga a necessidade de aperto monetário adicional.

O Comitê afirmou que  “em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções”. Entretanto, o comunicado incluiu um novo risco de alta para o cenário inflacionário – a saber, “uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada” – e manteve dois riscos de baixa. Entendemos que, dessa forma, o comitê reconhece implicitamente um balanço de riscos assimétrico.

Apesar da piora nas expectativas de inflação, da depreciação cambial e da piora no balanço de riscos, o comunicado adotou um tom relativamente suave, indicando "maior cautela" ou "maior vigilância" caso necessário. O comitê tinha a opção de escolher palavras mais duras, abrindo espaço de forma mais explícita para uma alta de juros na próxima reunião em caso de uma deterioração adicional do cenário de inflação, mas optou por não fazê-lo. Na nossa visão, a intenção do Copom é sinalizar que a taxa Selic deve se manter estável na próxima reunião.

Projetamos, por ora, Selic em 10,5% ao final de 2024 e de 9% ao final de 2025. Aguardamos a ata da reunião, que será divulgada na próxima terça-feira (6), para termos mais detalhes sobre os rumos da política monetária.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles                   Head

Claudia Moreno      Head Brasil

Claudia Rodrigues    Head Internacional

Felipe Mecchi               Internacional

Heliezer Jacob            Brasil

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