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Resumo semanal: Fed Hawk apesar de dados melhores de inflação em maio

Confira as principais notícias da semana (10/6 -14/6), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

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Internacional

Estados Unidos: Fed prevê menos cortes de juros em 2024

O banco central americano (Federal Reserve – Fed) manteve os juros em 5,25% a 5,5% ao ano pela sétima vez consecutiva – maior patamar em mais de 20 anos. A decisão veio conforme o esperado. O comunicado apresentou pouca alteração em relação ao anterior, reconhecendo que a inflação permanece elevada, mas percebendo um progresso moderado em direção à meta. A mensagem mais relevante veio com a divulgação do Sumário de Projeções Econômicas, que mostrou que a maioria dos membros do comitê de política monetária prevê apenas um corte de juros este ano, bem menos do que em março, quando a maioria acreditava em três cortes. As projeções do comitê também apontam uma inflação mais elevada no fim de 2024, com núcleo em 2,8%, e mantém a expectativa de alcançar a meta de 2% em 2026. O presidente do Fed, Jerome Powell, reforçou que próximas decisões continuam dependentes de dados e um corte de juros só deve acontecer quando tiverem mais confiança na convergência da inflação para a meta ou se houver uma fraqueza inesperada no mercado de trabalho.

O novo cenário apresentado pelo Fed se aproxima da nossa visão de inflação em 3% no fim de 2024, mas segue ligeiramente mais otimista. Mantemos nossa visão de que os fundamentos macroeconômicos (mercado de trabalho aquecido e inflação desacelerando muito lentamente) são consistentes com nenhum corte de juros este ano, mas a comunicação do Fed sugere que um corte é provável.

A inflação desacelerou, mas segue alta. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) ficou estável em maio frente ao mês anterior, de acordo com o Departamento do Trabalho. O núcleo do índice, que exclui alimentos e energia, registrou um aumento de 0,2%, abaixo do mês anterior. Na composição, a inflação de bens continua benigna e não causa preocupações, mas a inflação de serviços, que representa mais de 70% do núcleo, segue pressionada pelo mercado de trabalho aquecido. Em 12 meses, o núcleo do CPI também desacelerou para 3,4%, abaixo do esperado. Apesar do alívio em maio, a inflação está longe de convergir para meta. Vários indicadores, inclusive calculados pelo Fed, mostram que os índices de preços estão se estabilizando mais próximo de 3%. O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) registrou queda de 0,2%, abaixo do esperado. Nos últimos 12 meses, o núcleo do PPI, que exclui alimentos e energia, acumula alta de 2,2%.   

O índice de otimismo das pequenas empresas, medido pela Federação Nacional de Empresas Independentes (NFIB, na sigla em inglês), subiu 0,8 ponto para 90,5 em maio, mas permanece abaixo do nível pré-pandemia. Segundo a pesquisa, a inflação continua sendo o principal problema das pequenas empresas.

Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 242 mil na semana encerrada em 8 de junho.

Europa: salários elevados no Reino Unido

A guerra entre Rússia e Ucrânia está no terceiro ano e continua sem perspectiva de fim próximo.

A produção industrial ficou praticamente estável. O índice registrou leve queda de 0,1% em abril frente ao mês anterior com ajuste sazonal, segundo o Eurostat, depois de aumento em março. Excluindo a produção da Irlanda – país que costuma introduzir volatilidade ao índice em razão de direitos de propriedade intelectual e multinacionais no país – o índice ficou estável.

No Reino Unido, a atividade também ficou estável em abril frente ao mês anterior, de acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês), pouco melhor que o esperado. Houve crescimento de 0,2% no setor de serviços, o quarto mês consecutivo de expansão, apesar do consumo continuar fraco. A expectativa é que o consumo ganhe força com os salários, que seguem robustos. Houve contração no setor de manufaturas e no de construção. Nos últimos três meses, a atividade acelerou e registra expansão de 0,7%.  

O mercado de trabalho britânico segue com sinais de moderação, mas com salários em alta. De acordo com a ONS, nos três meses até abril, a taxa de desemprego subiu de 4,3% para 4,4%, quarto aumento consecutivo, enquanto a taxa de participação permaneceu constante. As contratações ficaram praticamente estáveis em maio, segundo pesquisa PAYE (estimativa prévia). O número de vagas abertas continua diminuindo gradualmente, mas a razão vagas por desempregado continua acima do nível pré-pandemia, causando pressão nos salários. Nos três meses até abril, houve aumento no ganho médio semanal (excluindo bônus) de 6% comparado ao mesmo período do ano anterior, um ritmo forte, que deve levar o Banco da Inglaterra a manter os juros em pausa na próxima decisão de política monetária (20/6).

Japão: BoJ em cautela

O Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) manteve o intervalo de flutuação de juros entre 0 e 0,1%, e anunciou uma política para reduzir seu balanço, mas ainda sem apresentar detalhes. Ambas as medidas eram esperadas. A autoridade monetária não definiu o ritmo de redução do balanço, adiando a decisão para julho, sinalizando possível discordância entre membros do comitê. O presidente da instituição, Kazuo Ueda, afirmou que a redução na compra de títulos públicos, a ser comunicada na próxima reunião, será substancial. Apesar de não ter descartado uma alta de juros em julho, o presidente citou a importância de equilibrar os riscos com impactos da redução do balanço.

China: aumento modesto do crédito

O fluxo do crédito agregado melhorou em maio comparado ao mês anterior, mas veio abaixo do esperado. O volume total foi de 14,8 trilhões de yuans, 2 trilhões acima do mês anterior, segundo o Banco Central da China (PBOC, na sigla em inglês). O maior volume de crédito ocorreu em razão do forte aumento na emissão de títulos públicos e da melhora de empréstimos a empresas. Enquanto isso, o crédito às famílias permaneceu baixo, em meio à fraqueza na venda de imóveis e no consumo.

A inflação ao consumidor teve leve aumento de 0,3% no acumulado em 12 meses até maio, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês). O preço de alimentos apresentou queda no período, enquanto o preço de energia continua acompanhando o movimento de commodities energéticas do mercado internacional. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, desacelerou de 0,7% para 0,6% no período. O índice de preços ao produtor (PPI) continuou recuando pelo vigésimo mês, com queda de 1,4%. Preços de materiais relacionados ao setor de construção seguem em queda. A inflação deve continuar baixa no país, em razão do excesso de capacidade instalada e da oferta acima da demanda.

Commodities: IEA prevê pico na demanda por petróleo

O conflito entre Israel e o Hamas completou oito meses. A crise geopolítica pode demorar algum tempo. Até o momento não houve uma escalada do conflito na região, que é a maior exportadora mundial de petróleo.

O preço futuro do petróleo (Brent) subiu levemente na semana (de 6/6 a 13/6), encerrando o período próximo a 83 dólares por barril. A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), em relatório anual de perspectivas do mercado no médio prazo, prevê uma desaceleração da demanda global à frente, com o avanço da transição energética, e antecipa um aumento da oferta global, com excesso de capacidade instalada principalmente em países fora da Organização de Países Exportadores de Petróleo e aliados.

O preço futuro do gás natural na Europa subiu 6% na semana, mas segue em patamar baixo. Os estoques continuam elevados na região. O preço continua menos de 40% do que era antes do início da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Os preços futuros das commodities agrícolas na Bolsa de Chicago apresentaram leve volatilidade. O preço do trigo continuou recuando, na semana caiu 3%, com condições favoráveis para aumento da produção nos Estados Unidos. O preço do milho e da soja permaneceram praticamente estáveis.

Brasil

Focus: projeções de IPCA e Selic apresentam leve elevação

As projeções para o IPCA registraram leve alta para 2024 (de 3,88% para 3,90%) e para 2025 (de 3,77% para 3,78%), ao passo que permaneceram estáveis para 2026 (3,6%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) teve leve alta para 2024 (de 2,05% para 2,09%) e ficou estável para 2025 (2%). A taxa Selic ficou estável em 10,25% para 2024, passou de 9,18% para 9,25% para 2025 e ficou estável em 9% para 2026. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: Varejo e Serviços indicam expansão da atividade no 2º trimestre

A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de abril apontou que o volume de serviços cresceu 0,5% na comparação mensal, um pouco acima do esperado pelo mercado (0,2%) e por nós (0,3%). Os destaques positivos foram serviços de informação, transportes e outros serviços. Por outro lado, os serviços prestados às famílias, que têm um peso importante no cálculo do PIB registraram queda de 1,8%.

A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de abril registrou queda de 1% frente ao mês anterior no volume de vendas no comércio varejista ampliado, pior do que o esperado por nós (0%) e pelo mercado (0,3%). Em relação ao nosso número, quase toda surpresa negativa ficou por conta do atacarejo, que é um setor que tem apresentado volatilidade. Na comparação com abril de 2023, as vendas desse segmento tiveram uma forte queda de 13%. No varejo restrito, as vendas registraram expansão de 0,9% na comparação mensal e subiram 2,2% na anual. Para 2024, projetamos que o varejo ampliado deve subir 2,7%

Vale lembrar que as pesquisas de abril ainda não incorporaram o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul para a atividade econômica. Teremos mais clareza sobre as consequências da tragédia ambiental na próxima pesquisa, referente a maio. Por ora, projetamos crescimento de 0,9% para o PIB do 2º trimestre e de 2,2% para o ano.

Inflação: segmento de serviços segue resiliente

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), indicador de inflação oficial do país, subiu 0,46% em abril, segundo dados divulgados hoje pelo IBGE. Esse resultado veio acima da nossa projeção e da projeção do mercado. Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula uma alta de 3,93%. O resultado foi puxado, principalmente, pelos preços dos alimentos, impactados pelos efeitos das chuvas no Rio Grande do Sul, grande produtor de grãos, como arroz, soja e milho. As inflações de serviços e de bens industriais também vieram pior do que o esperado. A inflação de serviços subjacentes, número que é acompanhado com mais atenção pelo Banco Central, acumula alta de 4,8% no acumulado em 12 meses e segue sem sinais de desaceleração. A resiliência da inflação de serviços corrobora nossa visão de que não há mais espaço para o Banco Central cortar juros neste ano. Projetamos alta de 4,7% para o IPCA de 2024 e taxa Selic estável em 10,5% até o fim do ano.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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