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Resumo semanal: inflação desacelera lentamente nos EUA

Confira as principais notícias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank

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Confira as principais notícias da semana (25/9-29/9), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Internacional

Estados Unidos: núcleo da inflação abaixo de 4%

A inflação segue pressionada, mas dado de agosto trouxe algum alento. O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) subiu 0,4% em agosto em relação ao mês anterior, segundo dados do Departamento do Comércio americano. O núcleo do indicador, que exclui alimentos e energia, desacelerou de 0,2% para 0,1%. No acumulado em doze meses, o PCE e o núcleo acumulam alta de 3,5% e 3,9%, respectivamente, bem acima da meta de 2% do banco central americano. A composição do índice mostra que o preço de bens já não é um problema, mas o preço de serviços continua pressionando o indicador, com salários acima da produtividade puxando o índice para cima. Em nossa visão, a inflação deve desacelerar lentamente, em razão da gradual desaceleração do mercado de trabalho em meio aos juros elevados. Mantemos nossa previsão de mais uma alta na taxa de juros este ano e acreditamos que os juros continuarão elevados por um longo tempo. Não prevemos cortes antes de meados de 2024.

A renda e o consumo das famílias continuam altos. Ambos subiram 0,4% em agosto frente ao mês anterior, segundo dados do Departamento do Comércio.

Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 204 mil na semana encerrada em 23 de setembro, 2 mil acima da semana anterior. Os pedidos de seguro-desemprego continuam consistentes com uma taxa de desemprego abaixo de 4%.

O setor imobiliário segue fraco. As vendas pendentes de casas registraram queda de 7,1% em agosto frente ao mês anterior, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis (NAR, na sigla em inglês). Vendas pendentes costumam antecipar vendas de casas existentes. As vendas de casas novas também encolheram 8,7% em agosto contra o mês anterior, segundo o Departamento de Comércio, revertendo o ganho de julho. Esse índice, no entanto, é volátil e usualmente sofre revisões. Apesar das vendas fracas, os preços de casas subiram 0,8% em julho em relação ao mês anterior, segundo dados da Agência Federal de Financiamento da Habitação (FHFA, na sigla em inglês). Em 12 meses, o indicador acumula alta de 4,6%. Os preços de casas têm subido em meio a estoques baixos. De modo geral, após apresentar dados melhores no início do ano, o setor imobiliário perdeu fôlego.

O governo americano pode entrar em shutdown (paralisação) parcial a partir de primeiro de outubro, data de início do próximo ano fiscal. Isso porque o orçamento do governo para o ano que começa ainda não foi aprovado pelo congresso. Serviços não essenciais ficarão fechados durante o shutdown. A Câmara deve votar uma proposta, que se aprovada seguirá para o Senado. Com o tempo escasso para a aprovação, um shutdown parece iminente. O impacto sobre o crescimento da economia deve ser baixo, a depender do tempo de duração, mas o possível fechamento de algumas agências de estatísticas, como o Departamento do Trabalho (BLS, na sigla em inglês) e o Departamento do Comércio (BEA, na sigla em inglês), pode atrasar a divulgação de dados econômicos. A maioria dos eventos de shutdowns que ocorreram até hoje não duraram mais de 2 dias úteis.

Europa: inflação segue elevada

A guerra entre Rússia e Ucrânia se estende pelo segundo ano. Bombardeios russos continuam ocorrendo principalmente em infraestruturas no Mar Negro e no rio Danúbio, afetando o escoamento de grãos ucranianos. O conflito segue sem perspectiva de fim próximo.

A confiança na economia continua baixa. O índice de sentimento econômico, calculado pela Comissão Europeia, diminuiu 0,3 ponto na prévia de setembro para 93,3. A confiança segue fraca entre consumidores e nos setores de manufaturas e serviços.

A inflação ao consumidor continua alta, mas desacelerou na margem. O índice (CPI, na sigla em inglês) subiu 4,3% nos últimos doze meses até setembro, segundo a prévia do Eurostat, com queda no preço de energia e desaceleração de alimentos. O núcleo da inflação, que exclui alimentos, energia, álcool e tabaco, também desacelerou, com preços de bens perdendo força, mas serviços persistentes cedendo lentamente. Entre as maiores economias do bloco, a inflação desacelerou na Alemanha e na França, mas acelerou na Itália e na Espanha.  O núcleo da inflação desacelerou de 5,3% para 4,5%, mas continua bem acima da meta.

China: lucro da indústria aumenta em agosto

O lucro da indústria subiu 17,2% em agosto comparado ao mesmo mês do ano anterior, de acordo com o Departamento Nacional de Estatísticas da China (NBS, na sigla em inglês). O aumento é o primeiro desde o segundo semestre de 2022 em razão de uma expansão da atividade industrial e depois de medidas de suporte do governo.

Commodities: preço do petróleo continua pressionado

Os preços das commodities energéticas estão em alta. Entre os dias 21 e 28 de setembro, o preço futuro do petróleo (Brent) subiu 2%, terminando o período pouco acima de 95 dólares o barril. O preço futuro do gás natural na Europa subiu 1,5% no mesmo período, mas continuou com alta volatilidade durante a semana. Apesar de estoques elevados no continente Europeu, a manutenção prolongada em plantas de gás na Noruega, principal fornecedor europeu, continua e deve se estender em outubro. O preço futuro do gás natural segue menor (menos da metade) que a média de janeiro de 2022 (pré-guerra).

Os preços das commodities agrícolas seguem sem muita volatilidade. O preço futuro do trigo negociado na bolsa de Chicago permaneceu estável e segue abaixo da média de 2021, período anterior à invasão russa à Ucrânia, um dos maiores produtores e exportadores da commodity. O preço do milho subiu levemente na margem, mas permanece baixo, e o da soja ficou praticamente estável.

Brasil

Focus: projeções inalteradas

As projeções para o IPCA ficaram estáveis para 2023 (4,86%), para 2024 (3,86%), para 2025 (3,5%) e para 2026 (3,5%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não teve alterações para 2023 (de 2,89% para 2,92%) e 2024 (1,5%). A taxa Selic está em 11,75% para 2023, em 9% para 2024 e em 8,5% para 2025 e 2026. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: mercado de trabalho aquecido

A taxa de desemprego da PNAD Contínua no trimestre terminado em agosto veio em linha com a nossa projeção, atingindo 7,8%. Na série com nosso ajuste sazonal, o indicador também está em 7,8%, estável frente ao trimestre encerrado em julho. A composição do dado mostrou aumento tanto da PEA (população economicamente ativa) quanto da ocupação. O crescimento da PEA indica uma leve melhora na dinâmica do mercado de trabalho, na medida em que aumentou o número de pessoas que buscam emprego. A renda real habitual do trabalhador acumulou alta de 5,5% em relação ao mesmo período de 2022. O crescimento da economia até agora foi suficiente para levar a taxa de desemprego para níveis abaixo do neutro, o que reforça o cenário de queda lenta da inflação. Para 2023, a taxa de desemprego deve encerrar o ano abaixo de 8%. Nossa expectativa é que a taxa de desemprego (ajustada sazonalmente) registre apenas leve alta em 2024.

Inflação: segmento de serviços segue elevado

A inflação medida pelo IGP-M subiu 0,35% em setembro, em linha com a mediana das projeções do mercado. Em 12 meses, o índice está em -6%. A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com queda de 2,53%. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – registrou queda de 0,35%. Em 12 meses, o IPA agrícola está em -18% e o núcleo do IPA industrial em -3,6%.

O IPCA-15 de setembro registrou alta de 0,35%, abaixo da nossa projeção (0,41%) e em linha com o consenso de mercado (0,37%). O índice acumula alta de 5% na variação em 12 meses, número superior à alta de 4,2% registrada no mês anterior. A surpresa baixista veio espalhada entre os segmentos de bens industriais e alimentos, enquanto serviços vieram mais pressionados. A média dos núcleos da inflação calculada pelo Banco Central, uma medida mais limpa da tendência dos preços, mostra desaceleração, mas segue em patamar elevado. O índice está em 5,1% em 12 meses. Nesta mesma métrica, serviços estão em 5,6% e bens industriais em 3,3%. A inflação de serviços deve permanecer pressionada em função do mercado de trabalho apertado. Nas nossas projeções, o IPCA acumulado em 12 meses deve continuar subindo e encerrar 2023 em 5,4%. Para 2024, nossa previsão é que a inflação fique em 5,5%.

Setor externo: saldo negativo na conta corrente em agosto

A conta corrente registrou déficit de US$ 0,8 bilhões no mês de agosto. Considerando o dado com nosso ajuste sazonal, houve déficit de US$ 1,2 bilhões. O saldo foi positivo na balança comercial, porém negativo em serviços e rendas. Em 12 meses, o saldo de transações correntes acumula déficit de 2,2% do PIB (US$ -45 bi). O Investimento Estrangeiro Direto (IED) foi de US$ 4,3 bilhões. Para 2023 e 2024, projetamos déficit de US$ 34 bi e US$ 25 bi para as transações correntes, respectivamente.

Fiscal: resultado negativo do setor público consolidado

O setor público consolidado apresentou um déficit de R$ 22,8 bi em agosto. Os governos regionais contribuíram para amenizar o resultado negativo com um superávit de R$ 2,5 bi. No acumulado em 12 meses, o resultado consolidado está negativo em R$ 73,1 bi (-0,7% do PIB). A dívida líquida encerrou o mês em 59,9% e a dívida bruta em 74,4%. Projetamos déficit do setor público consolidado de 1% do PIB para 2023, devido ao aumento de gastos e queda na arrecadação em função da desaceleração da atividade.

Política Monetária: Copom mantém sinal de ritmo moderado de queda de juros

O Banco Central divulgou nesta terça-feira (26) a ata das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 19 e 20 de setembro, apresentando mais detalhes sobre a decisão de política monetária. Acreditamos que a comunicação do Copom é compatível com quedas adicionais de 0,5% na taxa Selic nas últimas duas reuniões do ano.

A ata trouxe diversas discussões sobre assuntos que influenciam o cenário econômico, tanto externo quanto doméstico, tais como as perspectivas de crescimento global, juros longos nos países avançados, os motivos da resiliência da atividade econômica doméstica, a importância do cumprimento da meta fiscal e os motivos da desancoragem das expectativas de inflação.

Na nossa visão, não houve alteração quanto às indicações dos rumos da política monetária. O texto segue indicando que “os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.”

O Comitê reafirmou “a necessidade de se manter uma política monetária ainda contracionista pelo horizonte relevante para que se consolide a convergência da inflação para a meta e a ancoragem das expectativas”.

Esperamos cortes de 50 pontos-base para as reuniões restantes do ano. Projetamos Selic em 11,75% ao final de 2023 e em 9,25% ao final de 2024.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

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