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Resumo semanal: Fed sinaliza política monetária restritiva por mais tempo

Confira as principais notícias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank

Atualizado em

Tempo de leitura · 10 min

Publicado em

C6 Bank Felipe Salles Foto: Germano Lüders 04/08/2021

Confira as principais notícias da semana (22/8-26/8), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Internacional

Estados Unidos: magnitude da próxima alta de juros dependerá dos dados

O presidente do banco central americano (Federal Reserve - Fed), Jerome Powell, discursou na abertura do Simpósio Econômico de Jackson Hole, evento anual patrocinado pelo Fed. Powell sinalizou que o banco deve continuar a subir juros e manter uma política restritiva por mais tempo para restaurar a estabilidade de preços. Disse que um novo aumento de 75 pontos-base pode ser apropriado, mas a decisão dependerá de dados e da evolução do cenário.

A inflação americana diminuiu em julho, mas segue elevada. O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) teve queda de 0,1%, desacelerando em relação ao mês anterior, segundo dados do Departamento do Comércio americano. O índice acumula alta de 6,3% nos últimos doze meses, com destaque para o preço de energia (34,4%) e alimentos (11,9%). O núcleo do indicador, que exclui energia e alimentos, subiu 0,1% no mês e 4,6% em doze meses, bem acima da meta de 2% do banco central.

A atividade segue perdendo fôlego. A prévia do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sinalizou contração em agosto pelo segundo mês consecutivo. O PMI composto, que inclui o setor de manufaturas e serviços, diminuiu 2,7 pontos para 45, causada por uma demanda fraca. A queda no índice foi maior que a esperada, refletindo uma contração forte no setor de serviços, enquanto o de manufaturas se manteve mais resiliente. No detalhe, o PMI de manufaturas diminuiu 0,9 ponto para 51,3, enquanto o PMI de serviços diminuiu 3,2 pontos para 44,1. Os indicadores regionais de atividade industrial do Federal Reserve (Fed) de Kansas e Richmond vieram mais fracos e abaixo do esperado no mês de agosto. Ambos tiveram queda na demanda e produção, enquanto emprego permaneceu firme.

O setor imobiliário continua mostrando sinais de retração. As vendas de moradias novas tiveram queda de 12,6% em julho em relação ao mês anterior, segundo o Departamento do Comércio. Este foi o sexto mês de contração de vendas no ano, possivelmente decorrente de preços de casas e taxas de hipoteca elevados. As vendas pendentes também contraíram 1%, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis (NAR, na sigla em inglês), sinalizando que a venda de casas usadas deve continuar diminuindo nos próximos meses.

Os pedidos de bens duráveis permaneceram estáveis e os de bens de capital cresceram em julho, segundo o Departamento do Comércio. Os núcleos de ambos os índices vieram mais fortes que o esperado. A demanda por bens de capital continua sinalizando que investimentos seguem firmes. Ambos os indicadores permanecem acima do nível pré-pandemia.

A renda das famílias aumentou 0,2% em julho, em razão de aumentos de salários, enquanto os gastos com consumo subiram 0,1%. Houve aumento de gastos com serviços e queda com bens, segundo dados do Departamento do Comércio.

Em relatório semanal do Departamento de Trabalho, os pedidos iniciais de seguro-desemprego seguem em níveis baixos, em 243 mil na semana encerrada em 20 de agosto, 2 mil abaixo da semana anterior.

O PIB 2T22 foi levemente revisado para cima, mas ainda indica contração da economia. O índice passou de -0,9% para -0,6% em relação ao trimestre anterior, anualizado e com ajuste sazonal, de acordo com a segunda estimativa do Departamento do Comércio americano. A revisão ocorreu por um aumento no consumo em relação ao primeiro trimestre.

Europa: Banco Central sinaliza continuidade de normalização da política monetária

O Banco Central Europeu (BCE) divulgou a ata da última reunião de julho, indicando que uma normalização de política monetária deve continuar nas próximas reuniões. Segundo o texto, o aumento de 50 pontos-base nas taxas básicas de juros, primeiro desde 2011 e de magnitude maior do que o sinalizado na reunião anterior, não foi unânime, mas justificado pela inflação maior que a esperada. Próximos aumentos serão dependentes de dados. Sobre a ferramenta criada para evitar uma fragmentação do bloco – situação em que os governos de países membros teriam custos diferentes para emissão de dívida – o texto não trouxe detalhes sobre os critérios para seu acionamento.

O conflito entre Rússia e Ucrânia completou seis meses. A Rússia continua com ações ofensivas principalmente no leste do país, na região de Donbas. A Ucrânia mostra resistência e segue recebendo ajuda militar, financeira e humanitária do Ocidente. O conflito se estende por mais tempo do que era previsto. A Agência Internacional de Energia Atômica aguarda autorização para inspeção da usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, que tem sofrido com ataques próximos as suas instalações. O presidente ucraniano alertou para riscos de um acidente que poderia afetar toda a Europa.

Os preços das commodities continuam com alta volatilidade. Entre os dias 19 e 25 de agosto, o petróleo subiu levemente, com mensagem da Arábia Saudita que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo pode ser forçada a reduzir a produção para estabilizar preços. O gás natural subiu mais de 30% na Europa, em meio ao aumento da competição com a Ásia, que também se prepara para o inverno, e notícias de uma nova parada para manutenção do gasoduto de Nord Stream, que conecta a Rússia à Alemanha, por 3 dias a partir de 31 de agosto. Os grãos (milho e trigo) subiram na semana com notícias de piores colheitas nos Estados Unidos e na Europa em razão da seca. Há um mês, exportações de grãos da Ucrânia continuam ganhando força depois de acordo com a Rússia para reabertura de portos no Mar Negro.

A atividade contraiu pelo segundo mês consecutivo em agosto, de acordo com as prévias dos índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês), sinalizando enfraquecimento no 3T22. Houve queda na demanda, desaceleração na criação de empregos e menor pressão de preços. O PMI de serviços caiu 1 ponto, para 50,2, indicando leve expansão, enquanto o de manufaturas diminuiu 0,1 ponto, para 49,7, permanecendo em território contracionista pelo segundo mês consecutivo. Houve queda nos índices compostos reportados pela Alemanha (47,6 pontos, segundo mês consecutivo em contração) e França (49,8 pontos, primeiro mês em contração).

A confiança do consumidor melhorou levemente em agosto, saindo do menor nível da série histórica alcançado no mês anterior. O índice da Comissão Europeia subiu 2,1 pontos, chegando a -24,9, ainda bastante baixo possivelmente em razão de uma inflação elevada, de um cenário de guerra que se estende por mais tempo do que era previsto e de preocupações quanto a uma crise de energia associada ao menor fornecimento de gás natural por parte da Rússia.

No Reino Unido, a prévia do PMI sinalizou fraca expansão, desacelerando pelo segundo mês consecutivo. O PMI de manufaturas indica contração, o índice caiu 6,1 pontos para 46; o PMI de serviços diminuiu 0,1 ponto para 52,5. A demanda veio fraca, houve menor criação de emprego e preços desaceleraram, mas seguem elevados. A pressão sobre a inflação continuará elevada: o regulador de energia anunciou aumento na conta residencial em até 80% a partir de outubro.

China: novo pacote para tentar reanimar a economia

O Conselho de Estado definiu um conjunto de medidas para apoiar a economia, com maior suporte principalmente para investimentos em projetos de infraestrutura. O total do pacote é de RMB 1 trilhão (US$ 146 bilhões) e considera um aumento nos financiamentos para bancos de desenvolvimento e emissão de títulos públicos locais. Apesar do valor elevado, os efeitos são incertos, com a contração do setor imobiliário e políticas restritivas relacionadas à Covid-19 pesando sobre a economia. Além disso, a China também atravessa uma onda de calor e a maior seca histórica, o que tem comprometido a agricultura e a produção de energia da maior hidrelétrica do mundo localizada no rio Yangtze. Algumas fábricas na região interromperam temporariamente a produção.

O número diário de casos de Covid-19 diminuiu para quase a metade depois de chegar a quase 3.000 no fim da semana anterior. Os casos estão concentrados em províncias mais ao sul – ilha de Hainan -, e noroeste do país, que possuem aproximadamente 70% dos novos casos. O número de áreas de risco está elevado, mas boa parte está concentrada no Tibet, em Xinjiang e na ilha de Hainan. O governo chinês, seguindo a política de Covid zero, tem priorizado isolamentos, com criação de áreas de risco e empresas funcionando em loop fechado tão logo o número de casos aumente nas proximidades. Em Xangai, o número de casos diários continua baixo, mas testagens seguem ocorrendo semanalmente até o fim de agosto. 

O Banco Central da China (PBOC, na sigla em inglês) cortou de forma assimétrica as taxas de juros de curto prazo (LPR 1 ano) e de longo prazo (LPR 5 anos). A LPR 1 ano diminuiu 5 pontos-base para 3,60% e a LPR 5 anos baixou 15 pontos-base para 4,35%.  Esta última é usada como referência para empréstimos imobiliários; a redução maior nesta taxa sinaliza certo apoio ao setor imobiliário que enfrenta dificuldades com vendas de unidades.

Brasil

Focus: expectativas de inflação registram queda para 2022 e 2023

A projeção para o IPCA apresentou queda para 2022 (de 7,02% para 6,82%) e para 2023 (de 5,38% para 5,33%) e ficou estável para 2024 (em 3,41%). O número esperado para o PIB ficou praticamente estável para 2022 (passou de 2% para 2,02%) e para 2023 (de 0,41% para 0,39%). A taxa Selic ficou estável em 13,75% para o final deste ano, em 11% para 2023 e em 8% para 2024. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Deflação no IPCA-15 de agosto, mas serviços e bens industriais seguem pressionados

O IPCA-15 de agosto registrou deflação de 0,73%, menor do que o esperado pelo mercado (-0,83%) e por nós (-0,82%). O índice acumula alta de 9,6% na variação em 12 meses e mostra desaceleração em função das medidas de redução de impostos sobre combustíveis e energia elétrica (LC 194/2022). Juntos, esses itens contribuíram em -129 pontos-base na inflação deste mês. Olhando para a composição do dado, houve surpresa para baixo em monitorados, enquanto bens industriais e alimentação vieram acima do esperado. A inflação de serviços segue pressionada, sem mostrar tendência de desaceleração e deve continuar alta nos próximos meses, sob efeito da inércia inflacionária. Em 12 meses, a inflação de serviços acumula alta de 9% e a de bens industriais de 12,8%. Ambos os segmentos devem desacelerar a passos lentos.

Nos meses de julho e agosto, as divulgações do IPCA geral estão sofrendo o impacto da LC 194/2022, que limita o ICMS de energia elétrica, combustíveis e telecomunicações e afeta em cheio a inflação de bens administrados. O timing e a magnitude do repasse aos preços são variáveis que aumentam a incerteza dessas divulgações. Nossa projeção de IPCA segue em 6,5% para 2022 e em 5,7% para 2023.

Fiscal: arrecadação da Receita Federal segue sólida

Arrecadação da Receita Federal de julho somou R$ 203 bi, acima da mediana das previsões do mercado. Isso representa uma alta real de 7,5% em relação ao mesmo mês do ano passado. O dado foi impulsionado pelos recolhimentos de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e Contribuição Social sobre Lucro Líquido, que representaram R$ 53 bi. Projetamos resultado primário de superávit de 0,6% para o setor público consolidado em 2022.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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