Cuidado com investimentos financeiros que não são investimentos financeiros

Confira o artigo do prof. Liao Yu Chieh, educador financeiro do C6 Bank

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*Por Prof. Liao Yu Chieh, educador financeiro do C6 Bank

Vi um post no Instagram de uma pessoa que ensina a “investir em opções”. Independentemente da qualidade do conteúdo ou da idoneidade do vendedor do curso, o que me saltou aos olhos foi associar o verbo Investir ao derivativo Opção.

Mas, afinal, o que é investir?

Você pode investir tempo para conhecer melhor um crush, pode investir dinheiro em um projeto ou pode investir energia para treinar o seu pet, por exemplo.

De forma ampla, investir é empregar algum capital no presente, que pode ser tempo, dinheiro, energia etc., visando a um resultado futuro. Investir é gastar hoje para ganhar depois.

Geralmente, esse ganho não é certo e tem um risco associado a ele, ou seja, esse ganho pode ser menor que o esperado ou até negativo, resultando na perda do capital investido. Seu crush pode ser uma pessoa chata, o projeto pode falhar e seu pet pode continuar estragando seus tapetes e chinelos.

E o que é um investimento financeiro?

Um investimento financeiro é um produto em que você aplica dinheiro para que ele gere receita futura para você.

A receita pode ser de juros, quando você investe em CDB, títulos públicos, fundos de investimento, planos de previdência privada etc., de aluguéis, quando você adquire um imóvel com a intenção de alugar para inquilinos, ou de dividendos, quando você recebe uma parcela dos lucros ao investir em ações, em fundos imobiliários ou em um negócio próprio.

A sorte é importante em todos os investimentos, já que o banco emissor do CDB pode quebrar, o gestor do fundo de investimento pode comprar um ativo que se mostra ruim ao longo do tempo, o imóvel adquirido pode ficar vago por um longo período ou a ação pode desvalorizar na bolsa de valores. Entretanto, sorte não pode ser o principal elemento do sucesso de um investimento financeiro. Daí, eliminamos do rol de produtos as cartelas de bingo, as máquinas caça-níqueis, blackjack (21) e compra e venda de ativos na bolsa de valores visando apenas o curto prazo.

Pelo mesmo motivo, jogar na Mega da Virada não é considerado investimento financeiro, pois, apesar de aplicar dinheiro – o custo do bilhete – e esperar que ele gere uma receita futura, o resultado é um acontecimento puramente casual, dependendo apenas da sorte.

Por que uma opção não é um investimento financeiro?

Uma opção é um contrato de derivativo, e esses contratos servem para três coisas: fazer hedge, arbitrar e especular. Vejamos:

Fazer hedge: proteger-se de uma desvalorização cambial por meio de derivativos. Para isso, uma empresa importadora de produtos, por exemplo, pode comprar opções de compra (call), ficar comprado em termo ou contrato futuro de moeda ou, ainda, ficar ativo na ponta cambial em uma operação de swap.

Arbitrar: comprar e vender o mesmo ativo em praças diferentes, em tipos de contratos diferentes, com prazos de liquidação diferentes ou em mercados diferentes visando a ganhar com a assimetria de preços. Um gestor de fundo multimercado, ao ver que os preços estão “desarbitrados”, pode fazer simultaneamente duas operações financeiras, ficando comprado em um contrato futuro de mercadoria na bolsa brasileira e ficando vendido na bolsa de futuros de Chicago.

Especular: aproveitar a assimetria de informação para auferir um ganho. Por exemplo, acreditando que a moeda brasileira vá se desvalorizar frente ao dólar, posso me posicionar comprando opções de compra (call) de dólar, vendendo opções de venda (put) de dólar, ou comprando minicontrato futuro de dólar. Se a minha aposta estiver correta e o preço do dólar aumentar, meus contratos tendem a se valorizar.

Como fazer hedge, arbitrar e especular não é o mesmo que investir, não é possível dizer que se investe em opções nem em outros contratos de derivativos.

Mas é errado ser um especulador?

A palavra especulador tem conotação negativa na nossa língua, pois os leigos tendem a associar especulador a um sujeito sem escrúpulos, um aproveitador. Todos nós somos especuladores! Quando você planeja uma viagem de férias ao exterior e fica torcendo para o dólar cair para comprar moeda, você está especulando. Quando você deixa de comprar um produto hoje na esperança de que o preço caia na semana que vem, você está especulando. Não é errado especular, mas não podemos confundir especulador com investidor. São papéis diferentes com finalidades distintas.

Um especulador aposta na qualidade do seu julgamento ou na análise acertada da sua informação para ganhar dinheiro em cima dos outros participantes do mercado. Ele tem o importante papel de dar liquidez aos contratos, pois sem especuladores, o volume de operações seria bem menor, o que poderia até inviabilizar alguns mercados.

Já um investidor não aposta o seu dinheiro. Ele não ganha apenas quando outro participante do mercado perde. Também não garante liquidez ao mercado. Um investidor é uma pessoa superavitária que fornece caixa para que os participantes deficitários (empresas, governos, pessoas físicas tomadoras de crédito) possam se financiar no mercado e recebe uma remuneração por isso.

Além das opções, o que mais parece, mas não é investimento financeiro?

Bens imobilizados: carro, celular, joia, lookinho, sofá, TV de 70 polegadas etc. Esses bens não geram receita de juros, aluguéis nem dividendos. E pior ainda, depreciam, perdendo valor ao longo do tempo.

Day trade: o sucesso de comprar e vender no mesmo dia a mesma quantidade de ativos ou contratos derivativos depende muito do fator sorte. Apesar da habilidade do day trader fazer, sim, diferença (assim como saber contar cartas ajuda muito no blackjack), o day trader de ações, opções ou minicontratos depende demais da sorte, pois é evidente que no curto prazo os preços são muito voláteis. Nesse sentido, comprar uma ação visando ao longo prazo – mais de cinco anos – é investir, mas se o comprador tem a intenção de vender em poucas horas ou poucos dias, é especular.
Novamente, enfatizo que especular não é errado, mas não pode ser confundido com investir.

Scalping: é o day trade turbinado. Compra e venda de grandes quantidades e em períodos curtíssimos, podendo ser de minutos ou até segundos, buscando lucrar com movimentos rápidos várias vezes ao longo do dia.

E comprar bitcoin?

Vale a mesma lógica de ações e derivativos. Se você pensa em criptomoeda para ficar rico no curto prazo, você depende bastante da sorte para acertar o momento de entrada e a criptomoeda que vai bombar e, assim, isso vira especulação com essa classe de ativo.

Eu, por exemplo, invisto em um fundo multimercado que aloca o dinheiro em criptoativos replicando a cesta de ativos de um índice de criptomoedas. Invisto para diversificar a minha carteira, alocando apenas uma pequena porcentagem da minha exposição total. Uma vez investido, não acompanho o preço das cotas nem a variação diária do índice, pois meu horizonte é de longo prazo e eu só pretendo reajustar essa alocação caso algo conjuntural aconteça com a classe das criptomoedas.

Box 4

Mas, voltando ao meu ponto inicial, eu até posso estar enganado e o vendedor do curso realmente pode estar vendendo uma forma de investir com opções, porque existe uma estratégia com opções que sintetiza um investimento de renda fixa. Se você pesquisar por Box de 3 ou 4 pontas, também conhecidos como Box 3 e Box 4, verá que o retorno não depende da sorte, pois você paga um X hoje para receber um X+Y prefixado na data de vencimento das opções.

Agora, se o curso ensinar as demais estratégias com opções, como por exemplo trava de baixa ou de alta, borboleta, straddle, strangle etc., essas são apostas.

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