Confira as principais notícias da semana (23/9 – 27/9), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório
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A inflação veio em linha com o esperado. Em agosto, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) desacelerou para 0,1% em relação ao mês anterior, segundo dados do Departamento do Comércio americano. Houve queda no preço de bens e aumento moderado em serviços, que segue em tendência de desaceleração. O núcleo do indicador, que exclui alimentos e energia, também teve aumento de 0,1%. Em doze meses, o núcleo do PCE acumulou alta de 2,7%, permanecendo acima da meta de 2% do banco central americano (Federal Reserve – Fed). Em nossa visão, o núcleo da inflação continua dando sinais de estar se estabilizando próximo a 2,5%. Apesar de acima da meta,o Fed deve continuar cortando juros nas próximas reuniões, em razão do esfriamento do mercado de trabalho e de menores riscos de aceleração da inflação. Acreditamos que os cortes de juros devem ser graduais de 25 pontos-base (pb), mas não descartamos cortes de 50 pb caso o mercado de trabalho apresente deterioração.
A renda e o consumo das famílias desaceleraram em agosto frente a julho, segundo dados do Departamento do Comércio. Ambos os dados seguem tendência de desaceleração.
A atividade continuou registrando um bom desempenho, principalmente no setor de serviços. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto, que inclui o setor de manufaturas e serviços, segue em expansão e apresentou um resultado em linha com o esperado, 54,4 pontos. O índice reflete uma contínua expansão no setor de serviços (55,4), enquanto o setor de manufaturas segue retraindo (47).
Os núcleos de pedidos de bens duráveis e de bens de capital tiveram leve aumento em agosto. O núcleo dos pedidos de bens duráveis, que exclui o setor de transportes, subiu 0,5%, segundo o relatório do Departamento do Comércio dos Estados Unidos. O núcleo dos pedidos de bens de capital, que exclui aeronaves e equipamentos de defesa, aumentou 0,2% no mesmo período.
As vendas de casas novas recuaram 4,7% em agosto frente ao mês anterior, depois de alta expressiva em julho, segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio. O indicador de vendas pendentes de casas, que costuma antecipar vendas de casas novas, teve leve aumento, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis, sinalizando alguma melhora de vendas à frente. De acordo com dados divulgados pela Agência Federal de Financiamento da Habitação (FHFA, na sigla em inglês), os preços de casas continuam desacelerando e acumularam alta de 4,5% em julho. De modo geral, os preços e as taxas de hipoteca seguem elevados, mantendo as vendas abaixo do nível pré-pandemia.
A confiança do consumidor diminuiu em setembro e segue abaixo do nível pré-pandemia, segundo o índice do Conference Board. A dificuldade de conseguir emprego, dado divulgado na pesquisa, segue aumentando, sugerindo uma possível alta do desemprego.
Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuaram em níveis baixos para padrões históricos, em 218 mil na semana encerrada em 21 de setembro.
A guerra entre Rússia e Ucrânia está no terceiro ano e continua sem perspectiva de fim próximo.
A atividade perdeu força em setembro. De acordo com as prévias do PMI, tanto o indicador do setor de serviços (50,5 pontos) quanto o de manufaturas (44,8 pontos) recuaram e vieram abaixo do esperado, levando o índice composto (que inclui ambos os setores) para patamar contracionista depois de seis meses de expansão moderada. A composição do índice composto mostrou contínua retração na demanda, queda na produção, redução do emprego e menor pressão sobre preços. Entre as maiores economias do bloco, o PMI da Alemanha permaneceu em contração (47,2), com encolhimento maior em manufaturas (40,3) e estabilidade em serviços (50,6). O PMI da França retraiu (47,4) depois de forte expansão no mês anterior, quando foi impulsionado pelas Olímpiadas.
O índice de sentimento econômico ficou praticamente estável em setembro em relação ao mês anterior, segundo a Comissão Europeia. O índice permanece abaixo da média pré-pandemia. Houve leve piora na confiança da indústria e melhora na confiança de serviços e do consumidor.
No Reino Unido, o indicador de atividade segue sinalizando expansão. A prévia do PMI registrou 52,9 pontos, permanecendo acima de 50 pelo décimo primeiro mês seguido. O setor de serviços (52,8) e o de manufaturas (51,5) registraram crescimento mais moderado em setembro. Na composição do índice, a produção e o emprego desaceleraram, mas a demanda segue alta. Pressões inflacionárias moderaram.
Líderes do partido comunista reforçaram a meta de crescimento do ano, em torno de 5%, endossando um amplo pacote de estímulos. O comunicado ocorreu depois de uma desaceleração da atividade que começou no 2T24, acompanhado de uma fraqueza do consumo doméstico e uma contínua retração do setor imobiliário. A reunião de autoridades, que discutiu a economia do país, ocorreu antecipadamente, demonstrando um senso de urgência. Pelo lado fiscal, gastos necessários devem ser promovidos. No setor imobiliário, a crise precisa ser estancada e o setor estabilizado - foi citado um limite à oferta de novos imóveis e redução das restrições de compra. A política monetária precisa dar suporte à economia. Também foi enfatizada a necessidade de apoio ao emprego de grupos mais vulneráveis e fortalecimento da renda das famílias de baixa e média renda.
No início da semana, o Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) já tinha antecipado as medidas de alívio monetário. Entre as principais estavam a queda de várias taxas de juros (entre elas a taxa de médio prazo, em 30 pontos-base, com redução de 2% esta semana) e do compulsório bancário (em 50 pontos-base, com sinalização de mais cortes até o fim do ano), além de mais estímulos para promover o ajuste do setor imobiliário. Entre as iniciativas relacionadas ao setor imobiliário estão: redução do pagamento de entrada na compra do segundo imóvel (o valor será o mesmo cobrado na compra do primeiro imóvel), orientação para redução de taxas de juros de financiamentos imobiliários em andamento (para se aproximar da taxa dos novos financiamentos), e liberação de mais incentivos para que estatais comprem imóveis de construtoras para transformá-los em habitação popular. O PBoC anunciou também novos instrumentos para apoiar o desenvolvimento do mercado de capitais.
O tom mais forte adotado pelo Politburo e as medidas anunciadas pelo PBoC sinalizam uma preocupação do governo em alcançar a meta de crescimento. Apesar dos anúncios, especialistas consideram o esforço ainda insuficiente para impulsionar a economia. As expectativas ainda são de um crescimento abaixo de 5% para este ano.
Em nossa visão, a China tem problemas estruturais, como envelhecimento da população, endividamento elevado de governos locais e crise imobiliária, que devem levar o país a um crescimento menor nos próximos anos.
O lucro da indústria, dado divulgado na semana, teve leve aumento de 0,5% de janeiro a agosto, comparado ao mesmo período do ano anterior, de acordo com o Escritório Nacional de Estatística (NBS, na sigla em inglês). A produção industrial mais moderada e a deflação do índice de preços ao produtor explicam boa parte da variação da receita. Setores relacionados à mineração continuam reportando prejuízo, enquanto setores de manufaturas de alta tecnologia, impulsionados por políticas de apoio à inovação e sólida demanda externa, mantêm lucro sólido.
No Oriente Médio, o conflito entre Israel e Hamas completou onze meses. A tensão na região continuou alta esta semana, com o início de uma nova fase do conflito anunciada por Israel. O país bombardeou algumas regiões do Líbano, onde o grupo extremista Hezbollah é baseado e rejeitou proposta dos EUA e da França para um cessar-fogo. A crise geopolítica na região deve demorar algum tempo.
O preço futuro do petróleo (Brent) recuou 4% de 19/9 a 26/9, fechando a semana próximo de 70 dólares por barril. Perspectivas de aumento da produção da Arábia Saudita e da Líbia (depois de interrompida parcialmente por crise interna) e da desaceleração em curso da economia chinesa, maior importador da commodity, contribuem para alívio dos preços. Importante ressaltar que uma escalada do conflito no Oriente Médio, onde estão localizados os maiores exportadores da commodity, pode ter impacto sobre os preços.
O preço futuro do gás natural na Europa subiu 14% na semana de 19/9 a 26/9, voltando ao patamar do início de setembro. A chegada de um furacão no sul dos EUA acompanhado de tempestades tropicais interrompeu parte da produção de petróleo e gás no Golfo do México. Apesar do aumento no preço do gás, ele continua menos da metade do que era antes do início da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Os preços futuros de grãos subiram na semana, em razão do clima adverso e perspectivas de menor produção na América Latina. O Brasil, maior produtor de soja e o terceiro maior produtor de milho, enfrenta baixa umidade e extensas queimadas. Na semana, os preços do trigo e da soja tiveram alta similar, de 3%, e do milho, de 2%.
As projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador de inflação oficial do país, apresentaram alta para 2024 (de 4,35% para 4,37%), para 2025 (de 3,95% para 3,97%) e para 2026 (de 3,61% para 3,62%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) teve uma elevação para 2024 (de 2,96% para 3%) e não teve alteração para 2025 (1,9%). A taxa Selic subiu de 11,25% para 11,5% para 2024 e ficou em 10,5% para o final de 2025. Para 2026, não houve alteração (9,5%). As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.
A taxa de desemprego da PNAD Contínua no trimestre terminado em agosto veio em 6,6%. O indicador está também em 6,6% na série, com nosso ajuste sazonal, abaixo do trimestre encerrado em julho (6,8%). A composição do dado mostrou crescimento em doze meses de 2,9% da ocupação, assim como da renda real habitual, que subiu 5%. A taxa de desemprego está em nível significativamente abaixo do neutro, o que reforça o cenário de inflação pressionada, especialmente a de serviços. Nossa expectativa é que a taxa de desemprego (ajustada sazonalmente) encerre 2024 próxima de 6,5%.
O IPCA-15 de setembro registrou alta de 0,13%, bem abaixo da nossa projeção (0,33%) e do consenso de mercado (0,28%). Em doze meses, o índice está em 4,12%, um número inferior ao mês anterior (4,35%). A surpresa no mês atingiu, de forma disseminada, vários componentes da inflação. O principal deles foi a inflação de serviços subjacentes, que ficou estável (0%) ante uma projeção de alta de 0,31% do mercado. Entretanto, não acreditamos que essa desaceleração da inflação de serviços de setembro represente uma tendência. Os dados de inflação apresentam volatilidade e vamos acompanhar de perto os próximos números que serão divulgados. Outros itens do IPCA-15 também vieram abaixo do esperado – caso das passagens aéreas, alimentação no domicílio, bens industriais e preços monitorados. A média dos núcleos da inflação, que é uma medida mais limpa da tendência dos preços, calculada pelo Banco Central, está em 3,6% em doze meses. Nesta mesma métrica, serviços estão em 4,8% e bens industriais em 1,3%. Nas nossas projeções, o IPCA acumulado em doze meses deve encerrar 2024 em 4,7%. Para 2025, nossa previsão é que a inflação fique em 5%.
A inflação medida pelo IGP-M apontou alta de 0,62% em setembro, acima da mediana das projeções do mercado (0,49%). A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com alta de 2,4%. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – subiu 0,7%. Em 12 meses, o índice do IGP-M está em 4,5%, o maior valor desde dezembro de 2022. O IPA agrícola acumula uma alta de 9,6% e o núcleo do IPA industrial mostra expansão de 4%.
A conta corrente registrou um déficit de US$ 6,6 bilhões no mês de agosto. Considerando o dado com o nosso ajuste sazonal, houve déficit de US$ 5,6 bilhões. O saldo foi positivo na balança comercial, porém negativo em serviços e rendas. No acumulado em 12 meses, o saldo de transações correntes está em -1,7% do PIB (US$ -38,6 bilhões), um déficit maior do que o mês anterior (-1,5% do PIB). Para 2024, projetamos um déficit de US$ 31 bilhões e para 2025 um déficit de US$ 19 bilhões para as transações correntes.
O Banco Central divulgou nesta terça-feira (24) a ata das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 17 e 18 de setembro, apresentando mais detalhes sobre a decisão de política monetária.
No comunicado em que anunciou a decisão, o Copom elevou a taxa Selic de 10,5% para 10,75%, em decisão unânime. Na nossa visão, a ata manteve o tom duro do comunicado. As projeções de inflação do Banco Central (BC) sugerem uma alta de juros maior nas próximas reuniões.
O texto justificou a alta gradual, de 25 pontos-base, “de forma a, por um lado, se beneficiar do acompanhamento diligente dos dados, ainda mais em contexto de incertezas, tanto nos cenários externo como doméstico, mas, por outro lado, permitir que os mecanismos de transmissão da política monetária que possibilitarão a convergência da inflação à meta já comecem a atuar.” Na nossa visão, essa alta condiz com a sinalização dada pelos membros do Copom nas semanas antecedentes a reunião.
A julgar pelas projeções de inflação do BC e pelo tom duro do comunicado e da ata, acreditamos que os próximos passos devem ser de uma elevação mais intensa dos juros. Conforme já divulgado no comunicado da decisão, a projeção de inflação no cenário de referência do Copom (que considera juros a 11,25% ao final de 2024 e de 10,5% ao final de 2025) está em 3,5% para o primeiro trimestre de 2026. Além disso, o Comitê ainda considera uma assimetria altista no seu balanço de riscos para a inflação. Na nossa visão, a projeção do BC e o balanço de riscos sugerem a necessidade de um forte ciclo de alta de juros.
Sobre o ritmo e magnitude do ajuste da taxa de juros, “o Comitê preferiu uma comunicação que reforça a importância do acompanhamento dos cenários ao longo do tempo, sem conferir indicação futura de seus próximos passos”. Com isso, o Copom deixa em aberto a próxima decisão de juros e justifica esse posicionamento em função das incertezas envolvidas no cenário.
Diante da decisão de elevar a Selic e da comunicação do BC, revisamos nossa projeção para a Selic de 10,5% para 11,75% ao final de 2024. Acreditamos que o BC deve subir a taxa de juros em 50 pontos-base nas próximas duas reuniões do ano. Como o ciclo de aperto monetário pode se estender até o início do ano que vem, revisamos nossa projeção para a Selic ao fim de 2025 de 9% para 10%.
Equipe Econômica C6 Bank
Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil
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