Resumo semanal: PIB forte na 1ª metade do ano

Confira as principais notícias da semana (2/9 – 6/9), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório

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Internacional

Estados Unidos: moderação no mercado de trabalho abre espaço para corte de juros

O mercado de trabalho está mais equilibrado. O Departamento de Trabalho publicou dados referentes ao mês de agosto. De acordo com o Establishment Survey, houve criação de 142 mil empregos no período, abaixo do esperado. Adicionalmente, o mês anterior apresentou uma forte revisão para baixo. A criação de vagas segue tendência de desaceleração. No entanto, o ganho médio por hora trabalhada acelerou, acumulando alta de 3,8% nos 12 meses até agosto, o que deve manter uma pressão sobre os preços. O Household Survey mostrou que a taxa de desemprego recuou de 4,3% para 4,2%, conforme o esperado, e segue baixa para padrões históricos. A participação na força de trabalho permaneceu estável. Outro relatório do Departamento de Trabalho, o Jolts, mostrou que houve uma redução do número de vagas de emprego em aberto no mês de julho. A proporção de vagas disponíveis por desempregado diminuiu para 1,1, ainda consistente com um mercado robusto, mas seguindo uma tendência de desaceleração. Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuaram em níveis baixos para padrões históricos, em 227 mil na semana encerrada em 31 de agosto.

Em nossa visão, dados do mercado de trabalho serão mais importantes para a decisão do Fed neste mês. A inflação está sob controle, mas estabilizando acima da meta de 2%. O leve recuo na taxa de desemprego deve levar o banco central americano a ajustar os juros gradualmente, com o primeiro corte de 25 pontos-base (pb), mas não descartamos um corte de 50 pb.

O setor de serviços continua em expansão. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do Instituto ISM registrou leve aumento de 0,1 ponto, alcançando 51,5 em agosto. Na composição do indicador, a demanda e a produção seguem crescendo, mas com moderação. O emprego ficou estável. Os preços continuam elevados e subiram no período, indicando permanência de alguma pressão inflacionária.

O setor de manufaturas segue fraco. O PMIdo Instituto ISM subiu 0,4 ponto, alcançando 47,2 em agosto. Apesar do aumento, o índice continua sinalizando contração. Os subíndices de demanda, produção e emprego continuam encolhendo. Os preços pagos subiram, indicando contínua pressão sobre preços.

Europa: atividade frágil

A guerra entre Rússia e Ucrânia está no terceiro ano e continua sem perspectiva de fim próximo.

As vendas no varejo seguem fracas na zona do euro. O índice subiu 0,1% em julho, segundo o Eurostat. O indicador segue abaixo da tendência pré-pandemia.

Os preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) subiram 0,8% em julho frente ao mês anterior, segundo aumento seguido depois de oito quedas consecutivas, de acordo com dados do Eurostat. Em 12 meses, o PPI apresenta deflação de 2,1%, o que deve continuar contribuindo para diminuir a pressão sobre os preços ao consumidor.

O PIB da área do euro cresceu 0,2% no 2T24 frente ao trimestre anterior, de acordo com a divulgação final do Eurostat, ficando levemente abaixo da primeira publicação e menor do que no 1T24. Os detalhes da composição do PIB indicaram fragilidade, com leve contração do consumo doméstico e encolhimento dos investimentos.

A compensação por trabalhador desacelerou de 4,8% para 4,3% no 2T24 comparado ao mesmo período do ano passado, segundo o Banco Central Europeu (BCE). O resultado foi abaixo do previsto pelo BCE, mas segue robusto. A expectativa do BCE é que os salários desacelerem no próximo ano.

Falas recentes de membros do BCE mostraram divergência quanto a um corte de juros na próxima decisão. Em nossa visão, o BCE deve voltar a reduzir as taxas neste ano, em razão da perda de força da atividade econômica e do controle da inflação em curso.

China: economia sem fôlego

A atividade continua dando sinais de fraqueza, de acordo com o PMI de agosto, calculado pelo Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês). O PMI composto, que considera o setor de manufaturas, construção e serviços, diminuiu 0,1 ponto para 50,1. Na quebra por setores, manufaturas segue em retração (49,1), e serviços e construções registraram estabilidade (50,2 e 50,6 respectivamente).

Na reunião de líderes do partido comunista, que ocorreu em julho, foi reforçado o compromisso com a meta de crescimento do país de algo em torno de 5% para 2024. A expectativa é que mais medidas sejam anunciadas e implementadas para apoiar a economia. Entretanto, os dados mais fracos de atividade, observados desde o segundo trimestre, têm aumentado as dúvidas sobre o cumprimento da meta.

Commodities: forte queda do petróleo

No Oriente Médio, o conflito entre Israel e Hamas completa onze meses neste fim de semana. As negociações para um cessar-fogo na região continuam. Os ataques de Houthis às embarcações no Mar Vermelho seguem afetando o frete marítimo global. A crise geopolítica na região pode demorar algum tempo.

O preço futuro do petróleo (Brent) caiu 9% entre 29/8 e 5/9, encerrando o período em 73 dólares por barril, menor valor dos últimos 12 meses. A queda do preço está associada a preocupações com uma demanda menor, em razão da desaceleração do crescimento da China, maior importador global.  Em uma medida para minimizar o impacto sobre os preços, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) decidiu adiar o aumento da produção de 180 mil barris por dia, previsto para outubro.

O preço futuro do gás natural na Europa diminuiu 6%, e segue volátil. O preço do gás continua menos da metade do que era antes do início da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Entre as commodities agrícolas, os preços subiram na semana. O trigo teve alta de 7%, com preocupações com a produção da França, um dos maiores exportadores globais. Os preços da soja e do milho subiram 4% e 5% respectivamente. Apesar do aumento recente, os preços do trigo, do milho e da soja seguem tendência de queda desde meados de 2023.

Brasil

Focus: sem alterações relevantes

As projeções para o IPCA ficaram praticamente estáveis para 2024 (de 4,25% para 4,26%) e para 2025 (de 3,93% para 3,92%). Para 2026, não houve alteração (3,6%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) teve uma leve alta para 2024 (de 2,43% para 2,46%) e uma pequena mudança para 2025 (de 1,86% para 1,85%). A taxa Selic segue em 10,5% para 2024, em 10% para 2025 e em 9,5% para 2026. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: PIB forte no 2T24

O PIB do 2T24 subiu 1,4% na comparação com o 1T24, acima do esperado pelo mercado (+0,9%) e por nós (+1,2%). Do lado da oferta, a indústria registrou alta de 1,8%, o setor de serviços cresceu 1% e o setor de agropecuária contraiu 2,3%. Do lado da demanda, houve expansão na formação bruta de capital fixo (2,1%), no consumo das famílias (1,3%) e no consumo da administração pública (1,3%). Acreditamos que os fatores que impulsionaram a economia na primeira metade do ano, como a elevada safra de grãos, o reajuste do salário mínimo e o pagamento de precatórios, devem perder força na segunda metade. Por isso, esperamos uma forte desaceleração da atividade, que deve registrar uma expansão ligeiramente acima do zero no segundo semestre. Projetamos uma alta de 3% para o PIB neste ano. Para 2025, o PIB deve desacelerar, fechando o próximo ano com um aumento de 1,2%.

A produção industrial de julho registrou queda de 1,4% frente ao mês anterior. O resultado veio pior do que o previsto por nós (-0,8%) e pelo mercado (-1%). A queda foi impulsionada tanto pela indústria extrativa, que contraiu 2,4%, quanto pela indústria de transformação, que caiu 1,3%. O segmento de bens de capital - categoria ligada a investimentos em máquinas e equipamentos – expandiu 2,5%. Esperamos que a produção industrial continue andando de lado daqui para a frente, alternando meses de resultados positivos com outros negativos. Mesmo assim, o setor deve fechar o ano com um crescimento de cerca de 3%.

Inflação: IGP-DI no maior patamar em 20 meses

A inflação medida pelo IGP-DI apontou alta de 0,12% em agosto, levemente acima da mediana das projeções do mercado (0,09%). Em 12 meses, o índice está em 4,23%, o maior patamar desde dezembro de 2022. O IPA agrícola acumula alta de 4,9% e o núcleo do IPA industrial de 3,6%. No mês, a composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com expansão de 0,3%. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – subiu 0,8%.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles                   Head

Claudia Moreno      Head Brasil

Claudia Rodrigues    Head Internacional

Felipe Mecchi               Internacional

Heliezer Jacob            Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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