Estagflação: o que é e por que preocupa a economia

A estagflação é a combinação inflação e desemprego elevados e crescimento baixo. Entenda por que esse cenário desafia governos, bancos centrais e investidores.

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A estagflação é um fenômeno econômico que une três elementos raramente encontrados juntos:

  1. Inflação persistente, que reduz o poder de compra das famílias;
  2. Desemprego alto, que limita o consumo e agrava a incerteza;
  3. Baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que reflete a estagnação da economia.

Essa combinação cria um dilema para a política monetária, ao considerar que combater a inflação tende a esfriar ainda mais a atividade econômica, enquanto estimular o crescimento pode pressionar os preços.

Ao longo deste texto, entenda o que é estagflação, quais são suas causas e como ela impacta o dia a dia das pessoas e das empresas.

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O que é estagflação?

A estagflação é um fenômeno econômico raro que ocorre quando a economia desacelera, mas os preços continuam em alta e o desemprego avança. Esse comportamento quebra a lógica tradicional dos ciclos econômicos, nos quais períodos de fraqueza na atividade costumam aliviar as pressões inflacionárias. Quando as duas forças atuam ao mesmo tempo, a economia entra em um contexto de difícil controle para governos e bancos centrais.

O termo surgiu em 1965, quando o político britânico Iain Macleod usou a expressão “stagflation” em um discurso no Parlamento para descrever um cenário de estagnação econômica com inflação crescente. Segundo os arquivos do Parlamento do Reino Unido, essa foi a primeira vez que a palavra apareceu em um registro oficial, e sua popularização ocorreu nos anos seguintes, à medida que economias desenvolvidas enfrentavam situações semelhantes.

Historicamente, a relação entre inflação e desemprego é explicada pela curva de Phillips, teoria que indica um movimento inverso entre as duas variáveis. Através desse conceito, é possível entender que quando a atividade econômica se aquece, há um aumento no nível de emprego e os preços tendem a subir, o que pressiona a inflação. Já em períodos de desaceleração, ou seja, com maior desemprego, os preços costumam se estabilizar.

A estagflação rompe essa lógica. Nesse cenário, o aumento dos preços ocorre ao mesmo tempo em que a produção e o emprego enfraquecem, o que gera perda de renda e de confiança. O resultado é uma economia que perde dinamismo, mas continua sob pressão inflacionária, o que exige decisões difíceis de política monetária e fiscal.

Quais são as causas da estagflação?

A estagflação pode surgir por diferentes motivos, mas geralmente está associada a um conjunto de fatores que desequilibram a economia. Quando condições externas e internas são desfavoráveis, o resultado é uma combinação de preços em alta, desemprego elevado e crescimento baixo.

Entre as causas mais recorrentes estão:

  1. Choques de oferta: acontecem quando há aumento repentino no custo de insumos essenciais, como energia, alimentos ou matérias-primas. Esse encarecimento eleva o custo de produção, reduz a oferta de bens e pressiona os preços;
  2. Políticas econômicas desreguladas: ocorrem quando governos e bancos centrais estimulam excessivamente a demanda por meio de juros baixos e expansão fiscal em um momento em que a capacidade produtiva já está limitada. Nesse caso,  atividade não avança, e a inflação se intensifica.
  3. Expectativas desancoradas de inflação: surgem quando empresas e consumidores passam a antecipar reajustes de preços e salários, ao acreditar que a inflação continuará elevada. Esse comportamento alimenta novas altas e dificulta o controle de preços.

Em um contexto de estagflação, as ferramentas tradicionais de política econômica deixam de produzir os efeitos esperados. A elevação dos juros ajuda a conter a inflação, mas também desestimula o crédito e reduz o investimento, o que aprofunda a desaceleração. Por outro lado, a tentativa de impulsionar a economia por meio da queda dos juros tende a aumentar a pressão sobre os preços. Nesse cenário, o principal desafio das autoridades econômicas é encontrar um equilíbrio que reduza a inflação sem comprometer ainda mais o crescimento.

Quando a estagflação marcou a história?

A estagflação apareceu em diferentes momentos da história, sempre associada a desequilíbrios entre oferta, preços e políticas econômicas. Cada caso revela um aspecto particular do fenômeno e ajuda a compreender seus efeitos sobre inflação, renda e crescimento.

  1. Reino Unido, década de 1970: o período conhecido como “Barber Boom” marcou uma tentativa de estimular o crescimento por meio de política fiscal expansionista e juros baixos. A estratégia aumentou o consumo, mas também elevou a inflação e ampliou o déficit externo. Entre 1973 e 1975, o PIB britânico caiu mais de 1% ao ano, enquanto a inflação superou 20% em 1975, segundo dados do Office for National Statistics (ONS). O país passou a enfrentar desemprego crescente e perda de competitividade industrial.
  2. Estados Unidos, final dos anos 1970 e início dos 1980: o prolongado aumento dos preços levou o Federal Reserve, sob comando de Paul Volcker, a adotar juros acima de 20% ao ano em 1981 para restaurar a credibilidade da política monetária. A medida provocou recessão, com queda de 1,8% no PIB em 1982, segundo o Bureau of Economic Analysis (BEA), mas foi decisiva para reduzir a inflação de 13,5% em 1980 para 3,2% em 1983, conforme o U.S. Bureau of Labor Statistics (BLS).

Quais os impactos da estagflação na economia e no bolso?

A estagflação tem efeitos profundos sobre famílias, empresas e governos. Quando os preços sobem ao mesmo tempo em que o desemprego aumenta, a renda real diminui e o consumo perde força. Esse movimento enfraquece a atividade produtiva e compromete o crescimento.

Entre os principais impactos estão:

  1. Perda de poder de compra: a inflação persistente reduz o valor real dos salários. Produtos e serviços essenciais passam a consumir uma parcela maior da renda, o que limita o orçamento das famílias e diminui o padrão de vida;
  2. Consumo em retração: com menos renda disponível, as pessoas cortam gastos não essenciais e priorizam itens básicos. Essa mudança de comportamento afeta diretamente o comércio, os serviços e a indústria;
  3. Investimentos adiados: diante da incerteza, empresas postergam decisões de expansão e contratação. O aumento dos custos e a demanda enfraquecida reduzem as margens de lucro e desestimulam novos projetos;
  4. Desemprego persistente: a atividade enfraquecida leva à eliminação de vagas e ao aumento da informalidade, o que aprofunda o ciclo de estagnação.

Como acompanhar a estagflação?

A leitura do cenário macroeconômico é essencial para compreender o comportamento dos preços, do emprego e da atividade produtiva. Entender essas relações ajuda a antecipar tendências e a tomar decisões financeiras mais conscientes, principalmente em momentos de instabilidade, como os de risco de estagflação.

Para quem busca uma visão completa da economia, as Análises Macroeconômicas do C6 Bank reúnem avaliações detalhadas sobre inflação, juros, crescimento e política monetária. O conteúdo é produzido pelo time econômico do banco e oferece uma leitura integrada do contexto global e brasileiro, com linguagem acessível e embasamento técnico.

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É importante acompanhar a estagflação?

A estagflação representa um dos maiores desafios para a política econômica moderna, pois combina pressões de preços com perda de dinamismo produtivo. Compreender esse fenômeno é essencial para interpretar os ciclos da economia e reconhecer os fatores que influenciam o consumo, o crédito e os investimentos.

Ao analisar os movimentos de inflação, desemprego e crescimento sob essa ótica, torna-se possível entender por que certos períodos exigem decisões cautelosas e coordenação entre diferentes políticas econômicas. A estagflação mostra que estabilidade não depende apenas de crescimento, mas também de confiança e previsibilidade.

Refletir sobre suas causas e consequências ajuda a ampliar a visão sobre como a economia responde a choques e como a gestão eficiente de expectativas pode evitar desequilíbrios prolongados. Essa compreensão é fundamental para quem busca interpretar o cenário macroeconômico com consciência e agir com estratégia em contextos de incerteza.

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