Confira as principais notícias da semana (5/8 – 9/8), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório
Atualizado em
O setor de serviços voltou a apresentar expansão. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do Instituto ISM registrou aumento de 2,6 pontos, alcançando 51,4 em julho. Apesar do aumento, o indicador permanece abaixo da média pré-pandemia (2015-2019). O subíndice de demanda aumentou no mês, revertendo a contração do mês anterior. O indicador de emprego também subiu e alcançou o maior nível desde setembro. Os preços pagos continuam elevados, indicando pressão inflacionária no setor.
As condições de crédito ficaram menos restritivas no 2T24, comparadas ao trimestre anterior, segundo relatório do banco central americano (Federal Reserve, Fed). A pesquisa de opinião realizada com bancos americanos mostrou que um percentual menor de bancos apertou condições em relação ao 1T24.
Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego diminuíram e continuaram em níveis baixos para padrões históricos, em 233 mil na semana encerrada em 3 de agosto.
Após a divulgação de dados mais fracos de atividade (ISM manufaturas, mercado de trabalho) na semana passada, alguns membros do Fed reconheceram uma desaceleração da economia, mas que não parece sinalizar recessão e sugerem que o ajuste de juros deve ser gradual. Reforçaram que seguem atentos aos dados, mas não devem reagir exageradamente a uma divulgação de dados mais fraca. Dados melhores dessa semana ajudaram a diminuir preocupações de um encolhimento da economia.
Na nossa visão, os dados do mercado de trabalho em desaceleração, acompanhados de uma moderação da atividade e de uma redução da inflação em curso, aumentam as chances de o Fed cortar juros na reunião de setembro.
A guerra entre Rússia e Ucrânia está no terceiro ano e continua sem perspectiva de fim próximo.
As vendas no varejo registraram leve contração. O índice diminuiu 0,3% em junho, segundo o Eurostat. O indicador segue abaixo da tendência pré-pandemia.
A confiança de investidores diminuiu e segue fraca. O índice sentix referente a agosto veio abaixo do esperado, com piora na percepção da situação corrente e das expectativas.
Os preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) subiram 0,5% em junho frente ao mês anterior, depois de sete quedas consecutivas, de acordo com dados do Eurostat. Em 12 meses, o PPI apresenta deflação de 3,2%, o que deve continuar contribuindo para diminuir a pressão sobre os preços ao consumidor.
Japão: instabilidade da moeda e da bolsa de valores
O início da semana foi marcado por uma forte apreciação da moeda japonesa e queda do índice da bolsa de valores do país. O movimento ocorreu depois de dois eventos que reforçaram preocupações quanto a economia local e global. Primeiro, o Banco do Japão (BoJ) elevou a taxa de juros e sinalizou mais aumentos à frente. Em seguida, no fim da semana passada, dados mais fracos da economia americana (relacionados ao mercado de trabalho e à atividade de manufaturas) aumentaram preocupações quanto a uma possível recessão. De 30 de julho a 5 de agosto, o iene apreciou 6% e o índice Nikkei 225 caiu 18%, levando a interrupção das negociações em bolsa por alguns momentos.
Depois de anos de juros negativos (de 2016 ao início deste ano), o Japão é conhecido por proporcionar o ambiente perfeito para investidores tomarem empréstimos e investirem fora do país para maior retorno – operação conhecida por carry trade. Com o anúncio de mudança da política monetária do BoJ, muitos investidores repatriaram seus recursos, levando a uma apreciação do iene. Além da mudança no comportamento dos investidores em relação aos investimentos no exterior, os juros maiores no país diminuíram as expectativas de lucros de empresas locais, reduzindo a atratividade dos ativos em bolsa, que também sofrem com uma maior preocupação quanto a desaceleração da economia americana.
Contudo, houve um certo alívio depois da divulgação de dados melhores nos EUA e da fala de autoridade do BoJ indicando que os juros não devem subir enquanto o mercado permanecer instável. No fim da semana, a moeda e o índice da bolsa de valores apresentaram alguma recuperação.
A balança comercial registrou superávit menor do que o esperado, de 84,5 bilhões de dólares em julho, depois de recorde no mês anterior. As exportações de mercadorias cresceram abaixo do esperado, 7% frente ao mesmo mês do ano passado, enquanto as importações aumentaram 7,2%. Comparado ao mês anterior, as exportações recuaram para os principais destinos – Estados Unidos, Europa, Japão e Ásia emergente – em meio ao maior protecionismo e preocupações com a desaceleração da atividade global no setor de manufaturas. Por categoria, a exportação de produtos mais sofisticados, como eletrônicos e celulares, segue crescendo, enquanto a de veículos continua desacelerando e a de produtos mais simples contraiu. A participação da China nas exportações globais deu um salto em 2020 e segue elevada, em torno de 14%. As importações chinesas de produtos americanos e europeus continuaram crescendo, enquanto as importações do Japão seguem contraindo. As exportações foram um importante motor para o crescimento do país no primeiro semestre, em meio a contração do setor imobiliário e fragilidades do consumo doméstico. A desaceleração, neste início do 3T, acende um alerta para o governo que tem como meta alcançar o crescimento do país em torno de 5%.
A inflação ao consumidor segue baixa. O CPI acumulou alta de 0,5% nos 12 meses até julho, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês). Apesar de ter acelerado em relação ao mês anterior, o aumento ocorreu em razão dos preços de alimentos, que subiram no mercado internacional, e não por fortalecimento da demanda doméstica. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, desacelerou para 0,4% no período, menor crescimento no ano. O índice de preços ao produtor (PPI) continuou recuando pelo vigésimo segundo mês, com queda de 0,8%. A inflação deve continuar baixa no país, em razão do excesso de capacidade instalada e da fraca demanda doméstica.
No Oriente Médio, o conflito entre Israel e Hamas completou dez meses. As tensões diminuíram um pouco durante a semana, com intensificação da diplomacia externa para evitar uma escalada do conflito. Os ataques de Houthis às embarcações no Mar Vermelho seguem afetando o frete marítimo global. A crise geopolítica na região pode demorar algum tempo.
O preço futuro do petróleo (Brent) apresentou maior volatilidade na semana (de 1/8 a 8/8), mas terminou o período praticamente no mesmo nível da semana anterior, pouco abaixo de 80 dólares por barril. A queda do preço, que ocorreu no início da semana, acompanhou o aumento das preocupações quanto a uma possível recessão global. Poucos dados foram divulgados esta semana, mas as preocupações foram contidas por ora.
O preço futuro do gás natural na Europa subiu 8,5% na semana, mas segue em patamar baixo. O preço continua menos da metade do que era antes do início da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Os preços de grãos ficaram praticamente estáveis em relação à semana anterior. O preço do trigo subiu 1%, depois de queda de mesma magnitude na semana anterior. Os preços do milho e da soja tiveram queda similar de 1%.
As projeções para o IPCA registraram leve alta para 2024 (de 4,10% para 4,12%) e para 2025 (de 3,96% para 3,98%). Para 2026, não houve variações (3,6%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) teve uma pequena alteração para 2024 (de 2,19% para 2,20%) e para 2025 (de 1,94% para 1,92%). A taxa Selic segue em 10,5% para 2024, passou de 9,50% para 9,75% para 2025 e permanece em 9% para 2026. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), indicador de inflação oficial do país, subiu 0,38% em julho, segundo dados divulgados hoje pelo IBGE. Esse resultado veio um pouco acima da nossa projeção (0,36%) e da projeção do mercado (0,35%). As surpresas vieram concentradas nos grupos de bens industriais e serviços, compensadas parcialmente pelo número mais baixo em alimentação no domicílio. Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula uma alta de 4,5%. A inflação de serviços subjacentes, número que é acompanhado com mais atenção pelo Banco Central, acumula alta de 4,9% no acumulado em 12 meses e segue sem sinais de desaceleração. Vale mencionar que, no mês anterior, este número era de 4,5%. Projetamos alta de 4,7% para o IPCA de 2024 e taxa Selic estável em 10,5% até o fim do ano.
A inflação medida pelo IGP-DI apontou alta de 0,83% em julho, acima da mediana das projeções do mercado (0,68%). A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com alta de 0,7%. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – subiu 0,9%. Em 12 meses, o índice está em 4,2%, o maior valor desde dezembro de 2022. O IPA agrícola acumula alta de 4% e o núcleo do IPA industrial expansão de 2,1%.
O Banco Central divulgou nesta terça-feira (6) a ata das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 30 e 31 de julho, apresentando mais detalhes sobre a decisão de política monetária.
No comunicado em que anunciou a decisão, o Copom manteve a taxa Selic em 10,5% pela segunda reunião consecutiva, em decisão unânime. Na nossa visão, a ata veio em tom mais duro do que o comunicado, sinalizando que pode sim subir juros já na próxima reunião, caso os movimentos recentes do câmbio e das expectativas de inflação se mostrarem persistentes.
O trecho mais relevante da ata foi aquele em que o Comitê afirmou explicitamente e de forma unânime que “não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”.
Em segundo lugar, na discussão sobre o balanço de riscos, apesar de não ser unânime a avaliação de que os riscos estão assimétricos, o Comitê afirmou que “todos os membros concordaram que há mais riscos para cima na inflação, inclusive com vários membros enfatizando a assimetria do balanço de riscos.” Ou seja, o cenário piorou e parte do Copom já considera que o balanço de riscos está assimétrico, com mais riscos para cima do que para baixo para a inflação.
Adicionalmente, destacamos mais dois trechos que consideramos relevante. O Comitê afirmou explicitamente que “a projeção para o horizonte relevante está acima da meta de inflação de 3%”, sugerindo que há necessidade de agir para garantir que as projeções de inflação convirjam para a meta. Por fim, no debate sobre as expectativas e inflação e a taxa de câmbio, o Comitê observou que “se tais movimentos se mostrarem persistentes, os impactos inflacionários decorrentes podem ser relevantes e serão devidamente incorporados pelo Comitê”, sinalizando que o Copom pode vir a subir os juros na próxima reunião, mesmo sem alterações importantes nos condicionantes da inflação.
O texto da ata sugere um risco relevante de o Comitê decidir por uma alta de juros já na próxima reunião. Diante do cenário internacional volátil, mantemos a projetação de Selic estável em 10,5% até o final de 2024, mas reconhecemos que aumentou a chance de a taxa de juros terminar o ano mais elevada.
Equipe Econômica C6 Bank
Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil
Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.
Cada analista de Macro Research é o principal responsável pelo conteúdo deste relatório e atesta que:
Os números contidos nos gráficos de desempenho referem-se ao passado; o desempenho passado não é garantia de resultados futuros.
(i) todas as opiniões expressas refletem com precisão suas opiniões pessoais e eventual recomendação foi elaborada de forma independente, inclusive em relação ao Banco C6 S.A. e / ou suas afiliadas;
(ii) nenhuma parte de sua remuneração foi, está ou estará, direta ou indiretamente, relacionada a quaisquer recomendações específicas realizadas pelo analista.
Parte da remuneração do analista vem dos lucros do Banco C6 S.A. e / ou de suas afiliadas e, consequentemente, as receitas decorrem de transações mantidas pelo Banco C6 S.A. e / ou suas coligadas.
Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A., uma instituição regulada por autoridades brasileiras.
O Banco C6 S.A. é responsável pela distribuição deste relatório no Brasil.