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Resumo semanal – Copom: cenário base não mudou, mas incerteza é maior

Confira as principais notícias da semana (25/3-28/3), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Atualizado em

Economistas do C6 Bank. Da direita para a esquerda, Claudia Moreno (Head Brasil), Felipe Salles (Head) e Claudia Rodrigues (Head Internacional).
Claudia Moreno (Head Brasil), Felipe Salles (Head da equipe econômica) e Claudia Rodrigues (Head Internacional), economistas do C6 Bank. Foto: Wanezza Soares.

Internacional

Estados Unidos: atividade moderada

Os pedidos de bens duráveis e de bens de capital mostram certa estagnação nos últimos meses. O núcleo dos pedidos de bens duráveis, que exclui o setor de transportes, teve leve aumento em fevereiro em relação ao mês anterior (0,5%), segundo relatório do Departamento do Comércio dos Estados Unidos. O núcleo dos pedidos de bens de capital, que exclui aeronaves e equipamentos de defesa, registrou alta de 0,7% no mês. Ambos os pedidos reverteram a queda do mês anterior, mas seguem tendência de estagnação.

As vendas de casas novas tiveram leve redução (-0,3%) em fevereiro em relação ao mês anterior, segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio. As vendas de casas novas, que representam menos de 20% das vendas totais de casas, subiram fortemente durante a pandemia (meados de 2020-2021), mas já voltaram a média anterior. Já as vendas de casas existentes seguem mais fracas, abaixo da média pré-pandemia. Os preços de imóveis continuam elevados, apoiados nos baixos estoques de casas disponíveis para venda. Segundo dados divulgados pela Agência Federal de Financiamento da Habitação (FHFA, na sigla em inglês), os preços tiveram leve redução de 0,1% em janeiro em relação ao mês anterior. Em doze meses, os preços acumulam alta de 6,5%. De modo geral, os preços e as taxas de hipoteca elevados mantêm as vendas do setor fracas.

A confiança do consumidor ficou praticamente estável em março comparada ao mês anterior, segundo o índice do Conference Board. O indicador segue abaixo do nível pré-pandemia. Outro dado divulgado na pesquisa foi que a facilidade de conseguir emprego continua apontando mercado de trabalho robusto.

Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 210 mil na semana encerrada em 23 de março, 2 mil abaixo da semana anterior.

O PIB do 4T23 foi levemente revisado para cima. De acordo com a terceira e última divulgação do Departamento do Comércio americano, o PIB expandiu 3,4% no trimestre em relação ao trimestre anterior, anualizado e com ajuste sazonal (antes em 3,2%). A revisão ocorreu com melhor composição do índice que mostra maior gasto de consumo das famílias e mais investimentos em ativos fixos.

Europa: confiança melhora, mas segue baixa

A guerra entre Rússia e Ucrânia completou dois anos e continua sem perspectiva de fim próximo.

O índice de sentimento econômico, calculado pela Comissão Europeia, teve aumento modesto de 0,8 ponto em março para 96,3. A melhora do índice foi resultado de maior confiança em manufaturas, serviços e consumo. A confiança do consumidor tem melhorado nos últimos meses, mas segue abaixo da média pré-pandemia.

China: indústria volta a ter lucro

O lucro da indústria cresceu 10,2% no acumulado de janeiro e fevereiro comparado ao mesmo período do ano anterior, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês), após encolher 2,3% em 2023. O aumento no lucro ocorreu com forte produção da indústria, base de comparação baixa e políticas de apoio ao setor. O crescimento das exportações e a deflação de preços ao produtor também ajudaram a impulsionar os ganhos do setor.

Commodities: petróleo segue elevado

O conflito entre Israel e o Hamas entrou no sexto mês. Não houve impacto relevante nos mercados globais por enquanto, mas a atenção continua quanto a uma escalada do conflito na região, que é a maior exportadora de petróleo. A crise geopolítica pode demorar algum tempo.

O preço do ouro ficou estável na semana e está 18% acima do registrado antes do início do conflito entre Israel e Hamas (6/10).

O preço futuro do petróleo (Brent) encerrou a semana em 86 dólares por barril, permanecendo praticamente estável desde meados de março, mas acima do nível registrado no início do ano (em torno de 80 dólares). Os preços ganharam força neste mês com o anúncio de menor produção da Rússia e extensão do corte de produção da Arábia Saudita para o segundo trimestre.

O preço futuro do gás natural na Europa também ficou praticamente estável. No geral, os preços seguem baixos, em razão dos estoques que continuam elevados na região, nível recorde para esta época do ano. Desde o início do conflito entre Rússia e Ucrânia, o preço do gás natural recuou e está 70% abaixo do preço de janeiro de 2022 (pré-guerra).

Os preços futuros das commodities agrícolas na Bolsa de Chicago tiveram leve recuo na semana. Entre os dias 21 e 27 de março, o preço do trigo ficou estável com ampla oferta do grão, e o do milho e da soja recuaram levemente, 3% e 1,5%, respectivamente. Desde dezembro do ano passado, o preço do trigo tem ficado praticamente estável. Os preços da soja e do milho recuaram 9% e 6%, respectivamente.

Brasil

Focus: mais uma semana de alta no PIB de 2024

A projeção para o IPCA caiu para 2024 (passou de 3,79% para 3,75%), porém ficou praticamente estável para 2025 (de 3,52% para 3,51%). Não houve mudança para o ano de 2026 (3,5%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) teve pequena alteração para 2024 (de 1,8% para 1,85%) e ficou estável para 2025 (2%). Vale mencionar que, apesar de pequena, foi a 4ª semana seguida de alta nas projeções de PIB deste ano. A taxa Selic continua em 9% para 2024 e em 8,5% para 2025 e 2026. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Gráfico de linhas sobre projeções focus do IPCA porcentagem ano a ano. Analise das medianas de 2024 feita desde janeiro de 2022 a março de 2024 em comparação com a meta de inflação para 2024 e 2025, evidenciando projeções que se distanciam da meta.

Atividade: mercado de trabalho segue aquecido

A taxa de desemprego da PNAD Contínua no trimestre terminado em fevereiro veio em 7,8%, abaixo da nossa projeção (8%) e em linha com a do mercado (7,8%). O indicador está em 7,7% na série com nosso ajuste sazonal, igual ao trimestre encerrado em janeiro. A composição do dado mostrou crescimento da ocupação e da renda real habitual (0,2% e 0,4%, respectivamente) e uma contração na população economicamente ativa (-0,1%). O crescimento da economia até agora foi suficiente para levar a taxa de desemprego para níveis abaixo do neutro, o que reforça o cenário de inflação pressionada. Nossa expectativa é que a taxa de desemprego (ajustada sazonalmente) registre apenas leve alta em 2024.

Gráfico de linhas sobre a Taxa de Desemprego com ajuste de sazonal durante o período que compreende o ano de 2009 e 2024.

Inflação: inflação de serviços resiliente

O IPCA-15 de março registrou alta de 0,36%, acima da nossa projeção (0,29%) e do consenso de mercado (0,32%). Em 12 meses, o índice está em 4,1%. A principal surpresa veio dos preços das passagens aéreas, que caíram 9,1% – uma contração mais amena do que nossa projeção de -23%. Vale mencionar que este item veio abaixo do esperado no mês anterior, apresentando certa discrepância em relação às coletas. Entretanto, houve surpresa para cima no grupo de serviços subjacentes. A média dos núcleos da inflação calculada pelo Banco Central, uma medida mais limpa da tendência dos preços, mostra desaceleração e acumula alta de 3,9% em 12 meses. Nesta mesma métrica, serviços estão em 5,2% e bens industriais em 0,4%. A inflação de serviços deve permanecer pressionada à frente em função do mercado de trabalho aquecido. Nas nossas projeções, o IPCA acumulado em 12 meses deve encerrar 2024 em 4,7%. Para 2025, nossa previsão é que a inflação fique em 5%.

Gráfico de linhas sobre IPCA 15 acumulado em 12 meses, apresentando  informações sobre IPCA 15, serviços e bens industrias de março de 2013 e março 2024.

A inflação medida pelo IGP-M apontou queda de 0,47% em março, abaixo da mediana das projeções do mercado (-0,25%). A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com expansão de 0,6%. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – subiu 0,5%. No acumulado em 12 meses, o índice contraiu 4,3%, abaixo da deflação de 3,8% no mês anterior. O IPA agrícola, em 12 meses, está no patamar de -12,7% e o núcleo do IPA industrial em -1,6%.

Política monetária: Aumento da incerteza não altera plano de voo do Copom

O Banco Central divulgou nesta terça-feira (26) a ata das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 19 e 20 de março, apresentando mais detalhes sobre a decisão de política monetária.

No comunicado em que anunciou a decisão, o Copom alterou a sinalização sobre os próximos passos: ele afirmou que o corte dos juros deve ser de 50 pontos-base na próxima reunião (em maio), mas retirou a sinalização de cortes da mesma magnitude na reunião subsequente (no caso, a de junho), buscando com isso ganhar mais flexibilidade.

No texto divulgado na última terça-feira, o Comitê traz um discurso duro em relação a perspectiva de desinflação à frente, mas mantém a visão de que o cenário base segue basicamente inalterado.

Ao longo do texto, o Comitê traz os motivos para o aumento da incerteza no cenário internacional e doméstico. No contexto externo, ele afirma que “o cenário desinflacionário se mostra mais incerto, em função de um contexto de atividade resiliente nos Estados Unidos”.

No âmbito doméstico, o Comitê adotou um tom mais preocupado em relação a continuação da desinflação de serviços à frente. Segundo a autoridade monetária, “esse aumento de incerteza prescreve cautela na condução de política monetária”. Essa mudança abre espaço para uma possível redução no ritmo de cortes à frente, mesmo que a taxa terminal se mantenha inalterada.

Em outro trecho relevante, “alguns membros” defenderam um corte de juros de 25 pontos-base na reunião de junho, caso a incerteza prospectiva permaneça elevada. O termo “alguns” é importante, pois denota uma parte minoritária do Comitê. Na nossa visão, isso deixa implícito que o restante dos membros, que é a maioria, segue acreditando que o cenário de dois cortes de 50 pontos-base nas próximas duas reuniões é o mais provável. Projetamos Selic em 9,25% ao final de 2024 e em 8,5% ao final de 2025. Acreditamos que o texto da ata mantém a sinalização indicada no comunicado da decisão de um novo corte de juros de 50 pontos-base na reunião de maio e indica que, por ora, o mais provável é um corte de mesma magnitude para a reunião de junho.

Gráfico de linha sobre a Selic no acumulado de janeiro de 2023 até dezembro de 2025.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

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