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Copom flexibiliza comunicação sobre cortes de juros

Equipe econômica do C6 Bank, liderada por Felipe Salles, divulga projeções.

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Na imagem, a equipe econômica do C6 Bank está sentada em uma pequena arquibancada, Claudia Rodrigues (Head Internacional), Felipe Salles (Head) e Heliezer (Brasil) estão na primeira fileira. Claudia Moreno (Head Brasil) e Felipe Mecchi (Internacional) na segunda fileira, acima. A equipe veste roupas neutras. Ao fundo, vista para prédios.
Equipe econômica do C6 Bank. Crédito: Wanezza Soares.

Internacional

EUA

A economia segue em expansão. A desaceleração do mercado de trabalho perdeu vigor e a inflação segue persistente e acima da meta, pressionada pelos serviços. O núcleo da inflação (medido pelo PCE) acumula alta de 2,8% em fevereiro, bem acima da meta. O banco central americano sinalizou 3 cortes para este ano. Em nossa visão, o Fed deve implementar 2 cortes de juros, mas não descartamos a possibilidade de não haver cortes, em razão da resiliência da atividade e da inflação.

Europa

A atividade econômica está estagnada, particularmente a indústria. Apesar disso, o desemprego está em 6,5%, próximo da mínima histórica. A inflação tem desacelerado e ficou abaixo do esperado em março, com o núcleo diminuindo para 2,9% em doze meses. O Banco Central Europeu tem sinalizado um possível corte de juros em junho, quando mais dados estarão disponíveis para se validar a trajetória de queda da inflação.

Japão

O Banco do Japão (BoJ) abandonou a política de juros negativos. A taxa de referência passou para o intervalo de 0% a 0,1% depois de permanecer em -0,1% desde 2016. O forte aumento dos salários neste início de ano e o núcleo da inflação acima da meta ajudaram na decisão. O presidente da instituição afirmou que os próximos passos devem ser graduais.

China

A atividade econômica vem apresentando melhor desempenho, com crescimento da produção industrial, das vendas e dos investimentos. O setor imobiliário segue em contração e não deve contar com grandes estímulos do governo. A meta de crescimento é de “cerca de 5%”, a mesma do ano anterior, mas a China enfrentará desafios para crescer no ritmo esperado. Problemas estruturais (envelhecimento da população, endividamento já elevado dos governos locais e crise no setor imobiliário) devem levar a China a um crescimento menor nos próximos anos.

Brasil

Depois de crescer de forma surpreendente na primeira metade de 2023, a economia brasileira perdeu fôlego e registrou estagnação no último semestre do ano. Ainda assim, no saldo do ano, um bom resultado: o PIB avançou 2,9%. A pausa no crescimento deve ser temporária. Em 2024, o aumento das despesas do governo e das exportações deve voltar a impulsionar o crescimento do PIB. Projetamos um crescimento de 2,4% para o PIB este ano.

A Selic está em 10,75% e deve cair para 9,25% até meados deste ano, segundo nossa projeção. Os juros mais baixos devem reforçar o consumo e, principalmente, os investimentos no país. Para 2025, estimamos expansão de 1,5% do PIB.

O crescimento acima do que consideramos ser o potencial do Brasil (cerca de 1,5%) deve contribuir para manter a taxa de desemprego em patamar baixo. Projetamos uma taxa de desemprego abaixo de 8% ao final de 2024 e de 2025. O forte crescimento da renda real corrobora nossa visão de mercado de trabalho aquecido.

Gráfico do PIB crescimento anual em porcentagem de 2019 a 2025. Sendo o ano de 2020 o único com resultado negativo e 2021 com o resultado mais acentuado. Projeção de 2024: 2,4%. E projeção de 2025: 1,5%

Do lado fiscal, o setor público registrou déficit de 2,3% do PIB em 2023. Acreditamos que os gastos públicos continuarão sendo um impulso para a economia em 2024. Para 2024 e 2025, projetamos déficits fiscais de 0,7% do PIB.

Zerar o déficit (diferença entre receitas e despesas), como prevê o governo, será muito desafiador, mesmo com a melhor arrecadação no início do ano. Apesar de o novo arcabouço ser um passo importante para a sustentabilidade fiscal, acreditamos que, na ausência de um significativo aumento na arrecadação, será necessária uma forte queda dos juros reais para impedir o crescimento da dívida do país.

A dívida líquida do governo encerrou o ano de 2023 em 60,9%. Para 2024 e 2025, a tendência de alta deve prosseguir – projetamos dívida líquida em 62,1% e 63,4% do PIB, respectivamente.

Gráfico de barras de dívida líquida (% PIB) de 2012 a 2025. Os anos 2024 e 2025 estão destacados com bordas pontilhadas, marcando 62,1% e 63,4%, respectivamente. E as demais barras estão na cor branca.

Apesar da valorização do câmbio no ano passado, acreditamos que o real voltará a depreciar, influenciado pela alta da dívida líquida do governo e pela redução da Selic em um contexto de juros ainda elevados nos EUA. Projetamos câmbio em R$ 5,30 ao final de 2024. No entanto, a perspectiva de bons resultados no saldo da balança comercial  deve manter o câmbio estável para o final do ano que vem.

O saldo em transações correntes tem apresentado tendência de melhora, mas deve continuar negativo neste ano. Projetamos uma conta corrente deficitária em US$ 11 bilhões em 2024 em função de um aumento nas importações. Para 2025, acreditamos que a conta corrente deva ficar ligeiramente positiva, projetamos superávit de US$ 3 bilhões.

Gráfico de barras sobre conta corrente (PIB%) com números desde 2011 a 2025. Com destaque para 2024 e 2025, marcando -0,5% e 0,1%, respectivamente.

O IPCA-15, a prévia da inflação oficial, acumula uma alta de 4,1% em março deste ano. A melhora recente na dinâmica inflacionária se deve a fatores pontuais e não muda estruturalmente nossa visão de que a inflação deve se manter acima da meta nos próximos anos. Na nossa visão, o mercado de trabalho aquecido e o crescimento dos salários devem continuar pressionando a inflação de serviços. Essa dinâmica impõe desafios à trajetória da inflação à meta. Projetamos alta de 4,7% para o IPCA em 2024 e de 5% em 2025.

Gráfico de linhas com IPCA acumulado em 12 meses de junho de 2015 a  projeções para dezembro de 2025

O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic de 11,25% para 10,75% em março. Foi a sexta redução consecutiva de 50 pontos-base nos juros. Houve uma mudança no discurso e os membros do Banco Central sinalizaram a previsão de mais um corte de 0,5 ponto percentual da Selic apenas na próxima reunião, em maio, deixando em aberto o movimento da reunião de junho. Nossa expectativa é que o ritmo atual de corte das taxas seja mantido nessas reuniões. Vale dizer, por outro lado, que a resiliência dos preços de serviços e os dados fortes de atividade econômica podem tornar o balanço de riscos menos favorável para a inflação. Se isso ocorrer, o Banco Central pode ser mais cauteloso na extensão dos cortes de juros. Mantemos, por ora, nossa projeção de Selic em 9,25% para 2024. Para 2025 projetamos a taxa de juros em 8,5%.

Gráfico em linha da Selic porcentagem ano a ano de janeiro de 2023 a projeções para dezembro de 2025.

Projeções macroeconômicas do C6 Bank

 201920202021202220232024P2025P
Atividade   
Crescimento Real do PIB1,2%-3,3%4,8%3,0%2,9%2,4%1,5%
PIB Nominal (R$ bi)7.3897.6109.01210.08010.85611.67712.612
Fiscal   
Resultado Primário (% PIB)-0,8%-9,2%0,7%1,2%-2,3%-0,7%-0,7%
Dívida Líquida (% PIB)54,7%61,4%55,1%56,1%60,9%62,1%63,4%
Dívida Bruta (% PIB)74,4%86,9%77,3%71,7%74,4%78,6%79,9%
Setor Externo   
R$/US$ (final de período)4,035,205,585,284,865,35,3
Balança Comercial (US$ bi)273236448190101
Conta Corrente (US$ bi)-68-28-46-5429-113
Conta Corrente (% PIB)-3,6%-1,9%-2,8%-2,7%-1,3%-0,5%0,1%
Inflação   
IPCA (Var. a/a)4,3%4,5%10,1%5,8%4,6%4,7%5,0%
Juros   
Selic (dez)4,50%2,00%9,25%13,75%11,75%9,25%8,50%
        
        
P=Projeção
Fontes: IBGE, BCB, Bloomberg, C6 Bank.

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.
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