A economia segue em expansão. A desaceleração do mercado de trabalho perdeu vigor e a inflação segue persistente e acima da meta, pressionada pelos serviços. O núcleo da inflação (medido pelo PCE) acumula alta de 2,8% em fevereiro, bem acima da meta. O banco central americano sinalizou 3 cortes para este ano. Em nossa visão, o Fed deve implementar 2 cortes de juros, mas não descartamos a possibilidade de não haver cortes, em razão da resiliência da atividade e da inflação.
A atividade econômica está estagnada, particularmente a indústria. Apesar disso, o desemprego está em 6,5%, próximo da mínima histórica. A inflação tem desacelerado e ficou abaixo do esperado em março, com o núcleo diminuindo para 2,9% em doze meses. O Banco Central Europeu tem sinalizado um possível corte de juros em junho, quando mais dados estarão disponíveis para se validar a trajetória de queda da inflação.
O Banco do Japão (BoJ) abandonou a política de juros negativos. A taxa de referência passou para o intervalo de 0% a 0,1% depois de permanecer em -0,1% desde 2016. O forte aumento dos salários neste início de ano e o núcleo da inflação acima da meta ajudaram na decisão. O presidente da instituição afirmou que os próximos passos devem ser graduais.
A atividade econômica vem apresentando melhor desempenho, com crescimento da produção industrial, das vendas e dos investimentos. O setor imobiliário segue em contração e não deve contar com grandes estímulos do governo. A meta de crescimento é de “cerca de 5%”, a mesma do ano anterior, mas a China enfrentará desafios para crescer no ritmo esperado. Problemas estruturais (envelhecimento da população, endividamento já elevado dos governos locais e crise no setor imobiliário) devem levar a China a um crescimento menor nos próximos anos.
Depois de crescer de forma surpreendente na primeira metade de 2023, a economia brasileira perdeu fôlego e registrou estagnação no último semestre do ano. Ainda assim, no saldo do ano, um bom resultado: o PIB avançou 2,9%. A pausa no crescimento deve ser temporária. Em 2024, o aumento das despesas do governo e das exportações deve voltar a impulsionar o crescimento do PIB. Projetamos um crescimento de 2,4% para o PIB este ano.
A Selic está em 10,75% e deve cair para 9,25% até meados deste ano, segundo nossa projeção. Os juros mais baixos devem reforçar o consumo e, principalmente, os investimentos no país. Para 2025, estimamos expansão de 1,5% do PIB.
O crescimento acima do que consideramos ser o potencial do Brasil (cerca de 1,5%) deve contribuir para manter a taxa de desemprego em patamar baixo. Projetamos uma taxa de desemprego abaixo de 8% ao final de 2024 e de 2025. O forte crescimento da renda real corrobora nossa visão de mercado de trabalho aquecido.
Do lado fiscal, o setor público registrou déficit de 2,3% do PIB em 2023. Acreditamos que os gastos públicos continuarão sendo um impulso para a economia em 2024. Para 2024 e 2025, projetamos déficits fiscais de 0,7% do PIB.
Zerar o déficit (diferença entre receitas e despesas), como prevê o governo, será muito desafiador, mesmo com a melhor arrecadação no início do ano. Apesar de o novo arcabouço ser um passo importante para a sustentabilidade fiscal, acreditamos que, na ausência de um significativo aumento na arrecadação, será necessária uma forte queda dos juros reais para impedir o crescimento da dívida do país.
A dívida líquida do governo encerrou o ano de 2023 em 60,9%. Para 2024 e 2025, a tendência de alta deve prosseguir – projetamos dívida líquida em 62,1% e 63,4% do PIB, respectivamente.
Apesar da valorização do câmbio no ano passado, acreditamos que o real voltará a depreciar, influenciado pela alta da dívida líquida do governo e pela redução da Selic em um contexto de juros ainda elevados nos EUA. Projetamos câmbio em R$ 5,30 ao final de 2024. No entanto, a perspectiva de bons resultados no saldo da balança comercial deve manter o câmbio estável para o final do ano que vem.
O saldo em transações correntes tem apresentado tendência de melhora, mas deve continuar negativo neste ano. Projetamos uma conta corrente deficitária em US$ 11 bilhões em 2024 em função de um aumento nas importações. Para 2025, acreditamos que a conta corrente deva ficar ligeiramente positiva, projetamos superávit de US$ 3 bilhões.
O IPCA-15, a prévia da inflação oficial, acumula uma alta de 4,1% em março deste ano. A melhora recente na dinâmica inflacionária se deve a fatores pontuais e não muda estruturalmente nossa visão de que a inflação deve se manter acima da meta nos próximos anos. Na nossa visão, o mercado de trabalho aquecido e o crescimento dos salários devem continuar pressionando a inflação de serviços. Essa dinâmica impõe desafios à trajetória da inflação à meta. Projetamos alta de 4,7% para o IPCA em 2024 e de 5% em 2025.
O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic de 11,25% para 10,75% em março. Foi a sexta redução consecutiva de 50 pontos-base nos juros. Houve uma mudança no discurso e os membros do Banco Central sinalizaram a previsão de mais um corte de 0,5 ponto percentual da Selic apenas na próxima reunião, em maio, deixando em aberto o movimento da reunião de junho. Nossa expectativa é que o ritmo atual de corte das taxas seja mantido nessas reuniões. Vale dizer, por outro lado, que a resiliência dos preços de serviços e os dados fortes de atividade econômica podem tornar o balanço de riscos menos favorável para a inflação. Se isso ocorrer, o Banco Central pode ser mais cauteloso na extensão dos cortes de juros. Mantemos, por ora, nossa projeção de Selic em 9,25% para 2024. Para 2025 projetamos a taxa de juros em 8,5%.
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024P | 2025P | |
Atividade | |||||||
Crescimento Real do PIB | 1,2% | -3,3% | 4,8% | 3,0% | 2,9% | 2,4% | 1,5% |
PIB Nominal (R$ bi) | 7.389 | 7.610 | 9.012 | 10.080 | 10.856 | 11.677 | 12.612 |
Fiscal | |||||||
Resultado Primário (% PIB) | -0,8% | -9,2% | 0,7% | 1,2% | -2,3% | -0,7% | -0,7% |
Dívida Líquida (% PIB) | 54,7% | 61,4% | 55,1% | 56,1% | 60,9% | 62,1% | 63,4% |
Dívida Bruta (% PIB) | 74,4% | 86,9% | 77,3% | 71,7% | 74,4% | 78,6% | 79,9% |
Setor Externo | |||||||
R$/US$ (final de período) | 4,03 | 5,20 | 5,58 | 5,28 | 4,86 | 5,3 | 5,3 |
Balança Comercial (US$ bi) | 27 | 32 | 36 | 44 | 81 | 90 | 101 |
Conta Corrente (US$ bi) | -68 | -28 | -46 | -54 | –29 | -11 | 3 |
Conta Corrente (% PIB) | -3,6% | -1,9% | -2,8% | -2,7% | -1,3% | -0,5% | 0,1% |
Inflação | |||||||
IPCA (Var. a/a) | 4,3% | 4,5% | 10,1% | 5,8% | 4,6% | 4,7% | 5,0% |
Juros | |||||||
Selic (dez) | 4,50% | 2,00% | 9,25% | 13,75% | 11,75% | 9,25% | 8,50% |
Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil
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