• Início
  • Economia
  • Resumo semanal: EUA – Inflação pressionada reduz chances de corte de juros no 1S24

Leitura de 9 min

Resumo semanal: EUA – Inflação pressionada reduz chances de corte de juros no 1S24

Confira as principais notícias da semana (8/4 – 12/4), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Atualizado em

Equipe econômica do C6 Bank.
Imagem: Wanezza Soares.

Internacional

Estados Unidos: inflação mais forte que o esperado

A inflação segue resiliente. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) registrou variação de 0,4% em março frente ao mês anterior, de acordo com o Departamento do trabalho. O núcleo do índice (exclui alimentos e energia) também registrou um aumento de 0,4%. Na composição, a inflação de bens continua benigna e não causa preocupações, mas a inflação de serviços, que representa mais de 70% do núcleo, segue pressionada pelo mercado de trabalho aquecido. Em 12 meses, o núcleo do CPI subiu 3,8%, acima do esperado. O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) registrou variação mensal de 0,2%. Nos últimos 12 meses, o núcleo do PPI, que exclui alimentos e energia, acumula alta de 2,4%, acima do esperado.  

Em nossa visão, a inflação parece estar se estabilizando em um patamar elevado, mesmo com os juros em níveis altos historicamente. O mercado de trabalho aquecido tem mantido a inflação de serviços pressionada, o que é um entrave para a convergência da inflação para a meta de 2%. Este cenário não é condizente com o início do ciclo de cortes de juros neste primeiro semestre. Apesar de a autoridade monetária ter sinalizado na última reunião que poderia fazer três reduções de juros ainda este ano, acreditamos que haverá dois cortes e somente no segundo semestre. Mas não descartamos a hipótese de que nenhum corte seja feito em 2024 caso a inflação se mantenha resiliente.

A ata da reunião de janeiro do banco central americano (Federal Reserve – Fed) sinalizou cautela nos próximos passos. Na ocasião, o Fed optou por uma pausa, a quinta consecutiva, mantendo os juros entre 5,25% e 5,5% ao ano – maior patamar em mais de 20 anos. O documento mostra que os membros do comitê de política monetária (FOMC, na sigla em inglês) observaram o efeito positivo da política já implementada para conter a inflação, mas seguem atentos à trajetória da inflação e dependentes de dados para decisões futuras. Segundo a ata, embora a maioria dos membros prevejam que será apropriado cortar juros neste ano, alguns veem riscos para o progresso de redução da inflação.

O índice de otimismo das pequenas empresas, medido pela Federação Nacional de Empresas Independentes (NFIB, na sigla em inglês), diminuiu 0,9 ponto para 88,5 em março e permanece abaixo do nível pré-pandemia. O índice decepcionou expectativas. Segundo a pesquisa, a inflação e o mercado de trabalho apertado continuam sendo os principais problemas das empresas.

Europa: porta aberta para corte de juros em junho

O Banco Central Europeu (BCE) manteve as taxas de juros inalteradas, conforme esperado. Esta foi a quinta pausa seguida, depois de dez aumentos de juros desde meados de 2022. A taxa de depósito permaneceu em 4% ao ano – pico da série histórica. Em comunicado, o Banco reconheceu que a inflação tem desacelerado, puxada principalmente por preços de alimentos e bens, mas alertou que a inflação de serviços segue pressionada pelos salários elevados. No documento divulgado pela instituição foi mantido que a política monetária deve continuar restritiva para contribuir com o objetivo de levar a inflação à meta. A presidente do BCE, Christine Lagarde, reforçou que as decisões continuarão dependentes de dados e que o comitê precisa ganhar mais confiança que a inflação alcançará a meta no médio prazo antes de cortar juros. Em linha com a comunicação dos últimos meses, Lagarde reiterou que haverá muito mais informação disponível para a tomada de decisão na próxima reunião, abrindo a porta para o início dos cortes na reunião de junho.

No Reino Unido, a atividade expandiu 0,1% em fevereiro frente ao mês anterior, segundo mês consecutivo em expansão, de acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês). Houve leve crescimento de 0,1% no setor de serviços e de 1,2% em manufaturas, mas retração de -1,9% no setor de construção. Nos últimos três meses, a atividade registra leve expansão de 0,2%.

China: dados fracos de atividade e inflação

A balança comercial teve superávit de 58,55 bilhões de dólares em março, menor que o esperado e que o registrado no mês anterior. Houve retração nas exportações de -7,5% e de -1,9% em importações quando comparadas ao mesmo mês do ano passado. Considerando os principais destinos, as exportações se mantiveram fortes para os Estados Unidos, Europa e Japão, mas moderadas para a América Latina e África. Por produtos, as exportações foram puxadas por bens de consumo e automóveis. A participação da China nas exportações globais deve diminuir em razão da realocação da cadeia de produção global, que vem ocorrendo desde 2022.

O fluxo de crédito agregado teve leve alta no mês de março. O volume de crédito foi de 12,93 trilhões de yuans, segundo o Banco Central da China (PBOC, na sigla em inglês). Empréstimos bancários apresentaram leve expansão, com aumento dos empréstimos de médio e longo prazo a empresas e famílias, mantendo um ritmo estável de suporte para a economia real.

A inflação ao consumidor teve leve aumento de 0,1% no acumulado em 12 meses até março, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês). A volatilidade maior da inflação no início do ano reflete a sazonalidade do ano novo chinês, que aumentou a demanda por itens relacionados a festividade, como viagens, hospedagens, transportes e alimentos. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, subiu 0,6% no período. O índice de preços ao produtor (PPI) retraiu 2,8% apesar de um aumento do preço da energia no mercado internacional.

Commodities: preços de energia voláteis

O conflito entre Israel e o Hamas completou seis meses. Não houve impacto relevante nos mercados globais até o momento, mas a atenção continua quanto a uma escalada do conflito na região, que é a maior exportadora de petróleo. A crise geopolítica pode demorar algum tempo.

O preço futuro do petróleo (Brent) encerrou a semana por volta de 90 dólares por barril, com uma leve queda em relação à semana anterior. Os preços continuam voláteis com a extensão dos cortes de produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) e com a tensão no Oriente Médio.

O preço futuro do gás natural na Europa aumentou 12% na semana. Os estoques seguem elevados na região e o fim da temporada de aquecimento se aproxima, mas notícias de ataques russos a uma planta de estocagem de gás natural na Ucrânia, a maior da região, voltaram a pressionar os preços da commodity.

Os preços futuros das commodities agrícolas na Bolsa de Chicago tiveram leve recuo pela terceira semana seguida. Entre os dias 4 e 11 de abril, o preço do trigo, do milho e da soja recuaram levemente, 0,8%, 1,5% e 1,8%, respectivamente.

Gráfico de linhas sobre projeções focus do IPCA porcentagem ano a ano. Analise das medianas de 2024 feita desde janeiro de 2022 a março de 2024 em comparação com a meta de inflação para 2024 e 2025, evidenciando projeções que se distanciam da meta.

Brasil

Focus: projeção de IPCA para 2025 volta a registrar leve alta

As projeções para o IPCA registraram leva alta para 2024 (de 3,75% para 3,76%) e para 2025 (de 3,51% para 3,53%), mas não houve mudanças para 2026 (3,5%). O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) teve uma pequena alteração para 2024 (de 1,89% para 1,90%) e ficou estável para 2025 (2%). Vale mencionar que, apesar de pequena, foi a 7ª semana seguida de alta nas projeções de PIB deste ano. A taxa Selic continua em 9% para 2024 e em 8,5% para 2025 e 2026. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: mês forte para o comércio, mas fraco para os serviços

A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de fevereiro mostrou alta de 1,2% no volume de vendas no comércio varejista ampliado frente ao mês anterior, melhor que o esperado por nós e pelo mercado. Na comparação com fevereiro de 2023, as vendas tiveram uma forte alta de 9,7%. Dentro do varejo ampliado, um dos destaques foi o segmento de veículos, que registrou crescimento de 3,9% no mês. No varejo restrito, as vendas cresceram 1% no comparativo mensal e 3,5% no anual. Para 2024, o varejo deve contribuir positivamente para o PIB.

A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), também de fevereiro, apontou que o volume de serviços contraiu 0,9% na comparação mensal. Entretanto, o segmento de serviços prestados às famílias, que tem um peso relevante no PIB, subiu 0,4% no mês. Esse segmento tem se beneficiado do aumento da massa salarial e dos estímulos fiscais, como o pagamento de precatórios, que injetaram mais dinheiro na economia. Por esse motivo, acreditamos que o setor de serviços seguirá robusto no restante do ano.

Apesar destas pesquisas terem apresentado comportamento heterogêneo em fevereiro, não mudamos nossa visão de que a atividade veio forte neste começo de ano e deve apontar para um crescimento do PIB de 2,4% em 2024.

Gráfico de linhas sobre atividade com ajuste sazonal de janeiro de 2022 =100. Analise do aumento de vendas no comércio varejista ampliado até fevereiro de 2024.

Inflação: IPCA surpreende para baixo, mas serviços seguem pressionados O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), indicador de inflação oficial do país, subiu 0,16% em março, segundo dados divulgados hoje pelo IBGE. Esse resultado veio acima da nossa projeção (0,27%) e da projeção do mercado (0,24%). Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula uma alta de 3,93%. O principal ponto de atenção continua sendo a inflação de serviços subjacentes, que exclui os itens mais voláteis, e teve uma elevação forte no mês (0,45%). Em 12 meses, esse segmento acumula alta de 5%, rodando em patamar ainda elevado. Apesar de o IPCA ter desacelerado em março, ainda vemos a inflação de serviços muito pressionada pelo mercado de trabalho aquecido, o que representa um risco altista para os juros. Se a economia seguir crescendo acima do potencial, acreditamos que ficará mais difícil controlar a inflação, o que pode levar o Copom a antecipar o fim do ciclo de queda de juros. Nesse sentido, a taxa Selic pode terminar o ano acima dos 9,25% que projetamos atualmente. Para a inflação, projetamos IPCA de 4,7% no fim de 2024.     

Gráfico de linhas sobre serviços e bens industriais no acumulado de 12 meses. Analise sobre a alta do IPCA.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

Os números contidos nos gráficos de desempenho referem-se ao passado; o desempenho passado não é garantia de resultados futuros.

Cada analista de Macro Research é o principal responsável pelo conteúdo deste relatório e atesta que:

(i) todas as opiniões expressas refletem com precisão suas opiniões pessoais e eventual recomendação foi elaborada de forma independente, inclusive em relação ao Banco C6 S.A. e / ou suas afiliadas;

(ii) nenhuma parte de sua remuneração foi, está ou estará, direta ou indiretamente, relacionada a quaisquer recomendações específicas realizadas pelo analista.

Parte da remuneração do analista vem dos lucros do Banco C6 S.A. e / ou de suas afiliadas e, consequentemente, as receitas decorrem de transações mantidas pelo Banco C6 S.A. e / ou suas coligadas.

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A., uma instituição regulada por autoridades brasileiras.

O Banco C6 S.A. é responsável pela distribuição deste relatório no Brasil.