Resumo semanal: Fed dove, Copom suaviza comunicação

Confira as principais notícias da semana (18/3-22/3), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

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Internacional

Estados Unidos: Fed mantém indicação de 3 cortes de juros

O banco central americano (Federal Reserve – Fed) manteve os juros em 5,25% a 5,5% ao ano pela quinta vez consecutiva – maior patamar em mais de 20 anos. A decisão veio conforme o esperado. O comunicado apresentou pouca alteração em relação ao anterior, apenas reconheceu um mercado de trabalho mais aquecido. A mensagem mais relevante veio com a divulgação do Sumário de Projeções Econômicas, que mostrou que os membros do comitê continuam prevendo três cortes de juros este ano, apesar de terem uma expectativa de atividade econômica mais forte (PIB maior, desemprego levemente menor) e núcleo da inflação mais alto. O presidente do Fed, Jerome Powell, reforçou que continuam dependentes de dados e um corte de juros só deve acontecer quando tiverem mais confiança na convergência da inflação para a meta de forma sustentável.

Mantemos nossa visão que cortes de juros só devem ocorrer no segundo semestre deste ano. O mercado de trabalho aquecido e a inflação persistente, tanto apontada pelo CPI quanto nos índices subjacentes (medidas de inflação que excluem itens mais voláteis, divulgados pelo próprio Fed), devem manter os juros elevados por mais algum tempo.

A atividade segue em expansão moderada, segundo as prévias dos índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês) de março. O PMI composto, que inclui o setor de manufaturas e serviços, diminuiu 0,3 ponto para 52,2 pontos. Houve redução no índice de serviços (51,7), mas aumento em manufaturas (52,5). Ambos os setores continuam em expansão.

O setor imobiliário apresentou sinais mais positivos. O núcleo do indicador de permissão para construir teve leve alta em fevereiro frente ao mês anterior, segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio. Este indicador costuma antecipar o início de construções, cujo núcleo teve forte aumento no mês e segue uma tendência de alta desde o início de 2023. As vendas de casas usadas subiram significativamente (9,5%) no mesmo período, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis (NAR, na sigla em inglês). Deve-se ter em mente, no entanto, que essas vendas, que representam mais de 80% das vendas do mercado imobiliário, diminuíram substancialmente no início de 2022 e permanecem em níveis baixos. O estoque de casas disponíveis para venda segue baixo, mantendo pressão sobre os preços. Em outra pesquisa, o índice de confiança das construtoras (NAHB Housing Market Index) subiu 3 pontos em março, seguindo uma melhora iniciada há quatro meses, mas continua fraco. De modo geral, os preços e as taxas de hipoteca elevados mantêm as vendas do setor abaixo do nível pré-pandemia.

Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 210 mil na semana encerrada em 16 de março, 2 mil abaixo da semana anterior revisada para cima.

Europa: BoE mais alinhado para possível corte de juros

A guerra entre Rússia e Ucrânia completou dois anos e continua sem perspectiva de fim próximo.

A atividade teve leve melhora em março, de acordo com as prévias dos índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês). O índice composto, que considera o setor de manufaturas e serviços, subiu 0,7 ponto para 49,9 em março, apresentando melhora gradual pelo terceiro mês seguido, mas ainda permanece em território contracionista, abaixo da marca dos 50 pontos, pelo décimo mês consecutivo. O aumento do índice continua sendo puxado pelo setor de serviços (51,1), enquanto o setor de manufaturas voltou a perder força (45,7). Houve diminuição no tempo de entrega de mercadorias, depois de atrasos relacionados a eventos no Mar Vermelho, o que contribuiu para redução no preço de insumos. No setor de serviços, no entanto, os preços permanecem pressionados, em razão do custo elevado de salários. Entre as maiores economias do bloco, o PMI da Alemanha subiu (47,4), com melhora em serviços, mas ainda fraco em manufaturas, enquanto o PMI da França diminuiu (47,7), com piora em ambos os setores.

A confiança do consumidor melhorou na margem pelo segundo mês consecutivo. O índice subiu 0,6 ponto em março, segundo a prévia da Comissão Europeia, permanecendo fraco e bem abaixo da média pré-pandemia.

No Reino Unido, o indicador de atividade segue apontando expansão. A prévia do PMI alcançou 52,9 pontos, 0,1 ponto abaixo de fevereiro, em razão de uma menor expansão do setor de serviços (53,4), que segue forte. O setor de manufaturas melhorou e está perto da estabilidade (49,9). Houve sólida melhora na demanda por bens e os preços de insumos continuaram subindo. A pressão inflacionária também segue alta no setor de serviços, em razão de salários elevados. O emprego ficou estagnado no mês, com empresas reportando mais cautela, principalmente no setor de serviços, devido ao alto custo da mão de obra.

O volume de vendas no varejo ficou estável em fevereiro em relação ao mês anterior, depois de aumento de 3,6% em janeiro, segundo dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês). No geral, vendas seguem fracas.

A inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) veio pouco abaixo do esperado no Reino Unido. Tanto o índice cheio quanto o núcleo subiram 0,6% em fevereiro em relação ao mês anterior, depois de contração de ambos em janeiro. Em 12 meses, o núcleo, que exclui alimentos, energia, álcool e tabaco, desacelerou de 5,1% para 4,5% no mês, segundo a ONS, ainda com pressão de serviços.

O Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) manteve a taxa de juros em 5,25% ao ano, conforme esperado – maior nível em 16 anos. A pausa foi a quinta consecutiva depois de 14 aumentos. Apesar de os juros continuarem estacionados, esta foi a primeira reunião em que nenhum membro do comitê de política monetária votou por um aumento dos juros, sinalizando um maior alinhamento entre os membros. A ata manteve que a política monetária restritiva deve continuar por tempo suficientemente longo para que a inflação retorne à meta de 2%. O documento também mencionou que indicadores chave continuam mostrando persistência da inflação. Este ponto foi reforçado pelo presidente do BoE: Andrew Bailey afirmou que ainda não estão no momento de cortar juros, mas que estão no caminho certo para alcançar a meta de inflação de 2%. Em nossa visão, os juros devem permanecer elevados por mais algum tempo, em razão da persistência na inflação de serviços.

Japão: BoJ abandona juros negativos

O Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) voltou à política monetária tradicional, retirando a taxa de juros de território negativo (-0,1%) e definindo um intervalo de flutuação para os juros entre 0 e 0,1%. A mudança na política monetária ocorre depois de 8 anos de juros negativos. O controle da curva de juros, que definia uma meta para a taxa do título público de 10 anos, foi abolido, mas o Banco avisou que manterá a compra desses títulos para evitar um rápido aumento nas taxas. O forte aumento dos salários neste início de ano e o núcleo da inflação acima da meta ajudaram na decisão. O presidente da instituição, Kazuo Ueda, afirmou que as perspectivas são crescentes de que a inflação alcance a meta, mas manteve uma postura cautelosa acrescentando que os próximos passos devem ser graduais.

Em fevereiro, o núcleo da inflação, que exclui alimentos frescos e energia, cresceu 3,2% no acumulado em 12 meses, desacelerando em relação ao mês anterior. O país tem histórico de deflação. 

China: atividade ganha força

A atividade teve melhor desempenho no início do ano. Segundo dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês), a produção industrial cresceu 7% nos dois primeiros meses do ano comparados ao mesmo período de 2023. O dado veio acima do esperado, com o melhor desempenho do setor de manufaturas acompanhando as fortes exportações. Os investimentos também aumentaram e surpreenderam positivamente, crescendo 4,2% no mesmo período, sendo puxados pelo setor de manufaturas e infraestrutura, enquanto investimentos imobiliários continuaram encolhendo. As vendas de casas novas seguem em queda. As vendas no varejo tiveram aumento de 5,5%, em linha com o esperado, mas mostrando uma recuperação ainda incompleta do consumo pós-reabertura.

A taxa de desemprego urbano teve aumento moderado, alcançando 5,3% em fevereiro, depois de permanecer próxima a 5% nos quatro meses anteriores.

O Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) manteve as taxas de juros de curto prazo (LPR 1 ano) e de longo prazo (LPR 5 anos) inalteradas, conforme esperado. A LPR 1 ano permaneceu em 3,45% e a LPR 5 anos em 3,95% na decisão de março, depois de corte de 25 pontos-base na LPR 5 anos na decisão anterior.

Commodities: petróleo segue elevado

O conflito entre Israel e o Hamas entrou no sexto mês. Não houve impacto relevante nos mercados globais por enquanto, mas a atenção continua quanto a uma escalada do conflito na região, que é a maior exportadora de petróleo. A crise geopolítica pode demorar algum tempo.

O preço do ouro ficou estável na semana e está 18% acima do registrado antes do início do conflito entre Israel e Hamas (6/10).

O preço futuro do petróleo (Brent) encerrou a semana em 85 dólares por barril, permanecendo estável em relação à semana anterior.

O preço futuro do gás natural na Europa também ficou estável. No geral, os preços seguem baixos, em razão dos estoques que continuam elevados na região, nível recorde para esta época do ano. Desde o início do conflito entre Rússia e Ucrânia, o preço do gás natural recuou e está 70% abaixo do preço de janeiro de 2022 (pré-guerra).

Os preços futuros das commodities agrícolas na Bolsa de Chicago tiveram aumento na semana. Entre os dias 14 e 21 de março, o preço do trigo, do milho e da soja subiram 5%, 4% e 2,5%, respectivamente. Desde dezembro do ano passado, o preço do trigo tem ficado praticamente estável, enquanto os preços da soja e do milho recuaram 7% e 5%, respectivamente.

Brasil

Focus: sem alterações relevantes

As projeções para o IPCA permaneceram praticamente estáveis ao longo de todo horizonte: para 2024 passou de 3,77% para 3,79%, para 2025 de 3,51% para 3,52% e para 2026 ficou estável em 3,5%. O número esperado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) teve pequenas alterações para 2024 (de 1,77% para 1,8%) e ficou estável para 2025 (2%). A taxa Selic continua em 9% para 2024 e em 8,5% para 2025 e 2026. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Gráfico de linhas sobre projeções focus do IPCA porcentagem ano a ano. Analise das medianas de 2024 feita desde janeiro de 2022 a março de 2024 em comparação com a meta de inflação para 2024 e 2025, evidenciando projeções que se distanciam da meta.

Inflação:  IGP-10 segue em deflação

A inflação medida pelo IGP-10 apontou queda de 0,17% em março, acima da mediana das projeções do mercado (-0,29%). A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com expansão de 0,1%. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – subiu 0,5%. No acumulado em 12 meses, o índice contraiu 4,1%, abaixo da deflação de 3,8% no mês anterior. O IPA agrícola, em 12 meses, está no patamar de -12,7% e o núcleo do IPA industrial em -1,6%.

Gráfico de linha sobre IGP-10 acumulado em 12 meses desde março de 1996 a março de 2024.

Fiscal: 1º relatório bimestral prevê déficit primário dentro da meta

Os ministérios do Planejamento e Fazenda divulgaram nesta sexta (22) o Relatório de Avaliação de Despesas Primárias do 1º bimestre de 2024. O documento traz um cenário atualizado da situação do orçamento de 2024 diante da meta do governo de atingir o déficit zero no ano. O relatório traz uma necessidade de bloqueio de R$ 2,9 bilhões em despesas discricionárias. Houve revisão dos gastos para cima em R$2 bilhões e uma queda nas receitas líquidas de R$17 bilhões. Com isso, a estimativa para o resultado do ano passou de um superávit de 9,1 bilhões para um déficit de R$9,3 bilhões, e fica dentro da margem permitida pelo arcabouço fiscal, de meta zero, mais ou menos 0,25% do PIB.

Política monetária: Copom adota postura mais cautelosa sobre cortes

Em linha com as expectativas, o Banco Central do Brasil (BCB) reduziu a taxa Selic de 11,25% para 10,75% nesta quarta-feira (20). No comunicado em que anunciou a decisão, o Comitê de Política Monetária (Copom) alterou a sinalização sobre os próximos passos e afirmou que o corte dos juros deve ser de 50 pontos-base na próxima reunião. Nos comunicados anteriores, o órgão mencionava cortes para as “próximas reuniões”, no plural.

O comunicado afirma que seu cenário-base não se alterou substancialmente, mas que houve uma elevação da incerteza. Por isso, e pela “consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária”, os membros optaram por sinalizar apenas uma redução de 50 pontos-base para a próxima reunião, deixando o comunicado menos assertivo sobre os passos seguintes.

Na nossa visão, não ficaram inteiramente claros os motivos do aumento da incerteza no cenário do Copom, mas deve-se registrar que o comitê demonstrou algum grau de desconforto com a velocidade da queda da inflação global e com a dinâmica da inflação subjacente doméstica.

Para 2024 e 2025, as projeções de inflação no cenário de referência do Copom (que considera juros de 9% ao fim de 2024 e de 8,5% ao final de 2025) permaneceram iguais às registradas na última reunião. As estimativas, como informado no comunicado, estão em 3,5% para 2024 e 3,2% para 2025, próximas da meta estabelecida de 3% para o ano que vem. Esses números reforçam a ideia de que a expectativa do Copom para a taxa de juros terminal não foi, por ora, alterada.

Projetamos Selic em 9,25% ao final de 2024 e em 8,5% ao final de 2025. Aguardamos a ata da reunião, que será divulgada na próxima terça-feira (26), para termos mais detalhes sobre os rumos da política monetária.

Gráfico de linha sobre a Selic no acumulado de janeiro de 2023 até dezembro de 2025

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

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