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Isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil

A ampliação da isenção do Imposto de Renda promete aliviar o orçamento das famílias, mas também traz novos desafios para a economia brasileira.

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Tempo de leitura · 5 min

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O PL 1.087/2025, aprovado pelo Senado na quarta-feira (5/11), amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês e reduz a alíquota para rendas de até R$ 7.350. A medida, que agora segue para sanção presidencial, entra em vigor a partir do ano-calendário de 2026 (declaração de 2027) e pretende compensar parte da perda de arrecadação com a criação de um imposto mínimo sobre rendimentos anuais acima de R$ 600 mil.

Atualmente, a isenção do IR abrange apenas quem recebe até R$ 3.036, o equivalente a dois salários mínimos. A medida tem como principal objetivo oferecer alívio fiscal para cerca de 25 milhões de contribuintes, sendo parte totalmente isenta e parte com redução parcial das alíquotas.

De acordo com a Consultoria Legislativa da Câmara, a ampliação deve gerar uma perda de arrecadação de aproximadamente R$ 1,2 bilhão para os cofres públicos, um dos principais desafios fiscais à frente.

Neste texto, você vai entender como a nova isenção impacta a economia, o consumo e as contas públicas do país.

Quer saber mais sobre como os movimentos econômicos afetam o seu bolso? Confira outros conteúdos no blog do C6 Bank:

Como funciona a nova reforma do Imposto de Renda

Faixa de renda mensal
Situação na nova tabela
Benefício esperado
Até R$ 5.000
Isento de IR
Isenção total
De R$ 5.001 a R$ 7.350
Desconto fixo decrescente
Redução parcial da alíquota
Acima de R$ 7.350
Tributação normal
Sem alteração
Acima de R$ 600 mil/ano
Imposto mínimo de 10%
Compensação fiscal

O novo imposto mínimo de 10% sobre rendas anuais superiores a R$ 600 mil abrange salários, lucros e dividendos, assegurando que as faixas de maior renda contribuam proporcionalmente.

Além disso, lucros e dividendos apurados até 31/12/2025 poderão ser distribuídos até 2028 sem tributação, desde que deliberados até o fim de 2025.

Quem ganha com as novas regras do Imposto de Renda

Até então, a isenção do IR valia apenas para quem ganhava até R$ 3.036 mensais. Com o novo modelo, o benefício alcança rendas de até R$ 5.000 e cria um desconto fixo decrescente para salários de R$ 5.001 a R$ 7.350.

Segundo estimativas do governo, um contribuinte com renda mensal de R$ 5 mil passará a economizar cerca de R$ 4.350 por ano.

Esse valor, que permanece no orçamento das famílias, tende a se refletir em maior consumo de bens e serviços, e pode “acrescentar cerca de 0,3 ponto percentual ao crescimento do PIB em 2026”, de acordo com a análise da nossa equipe econômica do C6 Bank.

Como famílias de renda mais baixa costumam gastar uma parte maior do que ganham, esse dinheiro extra deve circular novamente na economia e isso se traduz em mais consumo de produtos e serviços nos próximos anos. Então, se a isenção de imposto de renda for mais um fator de estímulo para o consumo, como a gente acredita que vai ser, a economia pode voltar a ganhar temperatura.

Como a isenção de IR influencia a inflação e os juros?

O aumento da renda disponível tende a impulsionar o consumo, mas também cria desafios para o controle da inflação.

 No episódio 183 do Podcast Macro Review, economistas do C6 Bank mostram que esse estímulo ocorre em um cenário de política monetária significativamente contracionista, com a taxa Selic mantida em 15% na reunião do Copom de 5 de novembro de 2025, sem previsão de mudança por período bastante prolongado.

Esse contraste entre política fiscal expansionista e política monetária contracionista pode aumentar a pressão sobre os preços, especialmente nos serviços.

Uma medida que alimenta o consumo vai justamente na direção oposta do que o Banco Central tenta fazer agora, o que torna o controle dos preços ainda mais desafiador.

Uma possível rota para esse cenário seria “compensar a redução de impostos para quem ganha menos com um corte proporcional de gastos do governo. Essa combinação melhoria a distribuição de renda no país, não pioraria a situação das contas públicas e nem voltaria a alimentar a inflação.”

Brasil: uma das cargas tributárias mais elevadas do mundo

Antes das novas regras serem aprovadas, não existia dúvida quanto ao Brasil apresentar uma das cargas tributárias mais altas do mundo, próxima à de países desenvolvidos. O problema aqui é que a realidade brasileira se distancia da observada em países emergentes. Enquanto no Chile e Colômbia os impostos somam 21% e 20% do PIB, respectivamente, esse valor é de 33% no Brasil.

Além disso, vale reforçar que os impostos não incidem apenas sobre as rendas, mas podem tanto ser percebidos no consumo quanto recair sobre o patrimônio das pessoas.

As mudanças, contudo, podem direcionar o país em uma nova direção. Claúdia Moreno, Head responsável pela cobertura de Brasil no C6 Bank, afirma que com essa reforma “o Brasil ficaria bem próximo da média observada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2020”, levando a nossa faixa de isenção a patamares aproximados de economias desenvolvidas.

A economista ainda afirma que, embora o Brasil seja um dos poucos países que não tributa rendas mais elevadas, o país “não foge muito do padrão internacional”, já que empresas brasileiras pagam um valor significativo de imposto, especialmente quando o lucro é registrado. No entanto, o sistema tributário brasileiro apresenta tantas exceções que, no final, entender quanto de imposto é efetivamente pago é uma tarefa muito dificil.

Por fim, Claudia aponta que o desafio brasileiro não está apenas na arrecadação, mas no uso dos recursos públicos. O Brasil está entre os piores colocados no ranking do Banco Mundial, que mede a qualidade de educação, saneamento e infraestrutura. Economias com carga tributária menor do que a nossa, como Chile, Colômbia e México, estão em posições melhores.

Como acompanhar os impactos da isenção do Imposto de Renda na economia

As mudanças no Imposto de Renda abrem espaço para uma nova fase da economia brasileira. A ampliação da isenção e o novo modelo de tributação alteram a dinâmica de renda das famílias e o equilíbrio das contas públicas, com efeitos que devem se refletir ao longo dos próximos trimestres.

Para quem busca acompanhar esses desdobramentos, o podcast Macro Review, que divide as análises feitas pela equipe econômica, possibilita que você fique sintonizado semanalmente com o que está acontecendo no cenário brasileiro e global.

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